segunda-feira, 15 de novembro de 2010

“Somos um pouco missionários. Isto é importante”, diz novo vice-comandante da Guarda Suíça


Roma (Sexta-feira, 12-11-2010, Gaudium Press) "Não devo só pedir o cumprimento das regras do serviço militar, mas também dar alguma coisa que os ajude a reforçar a própria fé. Vejo isto como um dos meus objetivos". É o que revela o novo vice-comandante da Guarda Suíça Vaticana, o Ten. Coronel Christoph Graf.

O oficial foi entrevistado pela correspondente de Gaudium Press em Roma, Anna Artymiak, durante a solenidade de São Martinho de Tours, celebrada pela Igreja no dia 11 de novembro. Na entrevista, o Ten. Coronel Graf fala sobre sua decisão de entrar para a Guarda Suíça, sobre sua fé, sobre a importância de trabalhar ao lado do Papa e seus desafios daqui para a frente na Guarda Pontifícia. Acompanhe:

Gaudium Press - Como o senhor decidiu entrar para o Corpo da Guarda Suíça Pontifícia?

Eu trabalhava nos Correios Suíços perto de casa e tinha já 25 anos. Um dia eu pensei: "Mas que vida é essa? Ir toda manhã para o trabalho e voltar de noite para casa pelos próximos 40 anos? Não posso continuar assim". Queria sair da rotina. Em Lucerna, onde antes trabalhei, havia visitado uma mostra sobre a Guarda Suíça Pontifícia. Peguei um panfleto informativo sobre o Corpo, li atentamente e logo pensei que poderia ser uma coisa adequada para mim, a partir do momento que para mim a fé sempre foi algo muito importante. Onde trabalhava era uma região predominantemente protestante: meu irmão e eu éramos os únicos católicos naquela agência postal e isto se percebia, mesmo que não de maneira forte. Decidi portanto apresentar uma requisição ao Comando dos Guardas Suíços. Pensava que seria uma escolha de vida muito empenhativa e sinceramente não pensava que teria sido chamado. E, contrariamente, me chamaram para ser guarda. Eu tive que esperar um ano antes de poder vir à Roma. Naquela época havia muitas requisições porque muitos queriam ser da Guarda Suíça. Finalmente, em 2 de março de 1987, cheguei em Roma.

GP - Como foram os primeiros dias?

Era tudo novo. Eu gostava de coisas novas e estava cheio de entusiasmo. Era, de fato, a primeira vez que ia ao exterior. Nunca tinha saído da nossa bela Suíça e foi também minha primeira experiência de viagem aérea. Quando cheguei em Roma, iniciamos logo com os treinos: foi uma verdadeira vida militar. Para mim não era uma novidade, tendo já prestado o serviço militar no meu país: isto, de fato, é um pré-requisito para poder entrar na guarda suíça. De manhã eram feitos os treinos, das 8 ao meio-dia e meia: primeiro com a alabarda e depois sem, e à tarde andávamos pelo Palácio Apostólico para conhecer os escritórios e as diversas pessoas. De noite se voltava com a cabeça cheia de nomes estrangeiros e estranhos. Pensei: "Minha mãe! Vai ser difícil conseguir entender e lembrar de tudo!" O início foi duro, mas devo dizer que eu o enfrentei com grande entusiasmo. E assim aprendemos bem o nosso trabalho.

GP - E o entusiasmo permaneceu por 23 anos.

No início se faz um período de dois anos e depois se avalia a situação. Gostei sempre de tudo, tudo ia bem. Devo dizer que encontrei logo um grande equilíbrio entre o serviço, o lazer e também, uma coisa importante, o tempo para se dedicar à fé. Aqui se pode ir à missa todos os dias, há missas de hora em hora. Na Suíça agora se deve procurar a missa, também no domingo. Também o ambiente do Vaticano me agradou muito. Diz-se que no Vaticano é possível perder a fé! Diz-se! Mas eu acho que devemos ser sempre realistas. A Igreja é feita de homens e os homens são frágeis e pecadores. Isto me fez entender que o Vaticano não é, como se pensa na Suíça, um lugar similar ao Paraíso, onde somente os Santos decidem. O Vaticano é um Estado composto por homens. Como são? Não toca a mim dizê-lo, mas posso dizer que aqui também há os santos.

GP - O que significa ser uma guarda suíça, estar assim próximo ao Papa, protegê-lo?

Creio que para nós suíços é motivo de orgulho. É uma tradição ser um Guarda Suíço. Há mais de 500 anos estamos aqui, escolhidos por Júlio II. Acredito que é estranho para um suíço, que fez um trabalho normal, poder tornar-se um guarda do Papa e estar tão perto do Sucessor de Pedro. Penso que só por isto uma pessoa deve ter muito orgulho. Eu ainda tenho e nunca perdi. Quando encontramos o Papa é sempre uma emoção, quando ele vem, quando está perto de nós. Não é um homem como os outros e fico sempre emocionado quando o vejo e o encontro.

GP - Os guardas suíços são privilegiadas pelo fato de terem a oportunidade de conhecer a pessoa do Papa de perto. Como é Bento XVI?

Não é assim como escrevem quase todos os jornais. É um homem muito humilde, que colocou toda a sua vida à disposição da Igreja, um verdadeiro servidor. Ele quer ser um servidor, ele é "o servidor". Como havia dito quando foi eleito: "simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor". É o que ele queria e não quer ser um Papa. Ele se vê como um servidor de todos.

GP - Agora o senhor foi destinado para novas funções. Quais são os deveres do Vice-Comandante do Corpo da Guarda Suíça Pontifícia?

O primeiro é ser o substituto do Comandante. Quando ele não está presente é o Vice-Comandante que deve tomar as decisões. Um dever preciso do Vice-Comandante é aquele de acompanhar o Santo Padre em todas as viagens. É para mim uma honra e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade! Depois virão os deveres decisivos.

GP - Além de ser um guarda suíço o senhor também é pai de dois filhos. É fácil conciliar o serviço com a vida familiar?

Uma desvantagem existe: infelizmente não se está tanto com a família e a família para mim é importante. Quando estou em casa, procuro distanciar-me do trabalho, há uma outra vida. Ao voltar para casa meus filhos correm para me abraçar e é muito bom estar em casa, especialmente na própria casa. Creio porém que da parte, não só de minha mulher, mas também de meus filhos, é necessário um pouco de sacrifício. Não digo que todas as mulheres pensem como as mulheres dos guardas. Falo em geral. Porque é um sacrifício. Estamos frequentemente no sábado e também no domingo em serviço. Na Páscoa trabalhamos, no Natal também. Há pouco tempo para viver um pouco as festas com a família. Se se fica por aqui, certamente se está trabalhando. É por isto que vejo que é um sacrifício também para a família. Mas, por outro lado, quando se quer bem e existe acordo e compreensão entre marido e mulher, os filhos crescem bem e são obedientes, se faz um trabalho com dever e paixão, é possível conciliar todas as duas coisas, família e trabalho.

GP - Quais são as maiores lembranças de seus 23 anos de serviço?

Uma coisa que não esquecerei jamais foi a morte de João Paulo II. Foram tantos anos com ele, quase 18. Pode-se dizer que foi como um Pai que foi embora. No fim de sua vida sofreu muitíssimo. Quando o víamos, quando lhe estávamos próximos em serviço, pensávamos: "Como sofre esse homem!". Depois, a eleição de Bento XVI foi uma coisa excepcional, como, aliás, todo o conclave: foi belo poder assistir pelo menos uma vez este acontecimento. Naturalmente também o Ano 2000, o Grande Jubileu. Viver o Jubileu. Houve tantos outros acontecimentos: a canonização de Padre Pio, a de Escrivá, o fundador da Opus Dei. Milhares, centenas de milhares de pessoas em Roma. Uma coisa nunca vista antes. Também aquelas foram coisa que me impressionaram muito. Mesmo que no fundo não tenha podido aproveitá-las em pleno porque estava trabalhando. Mas eu penso que sempre participei dos acontecimentos excepcionais! Depois também o nosso jubileu, 500 anos da Guarda Suíça Pontifícia. Foi um belo jubileu. O testemunho de que a Guarda faz parte da história da Igreja.

GP - O que espera o novo Vice-Comandante no início de seu trabalho?

O que eu espero? Espero permanecer sempre a mesma pessoa que era antes. Não considero importante somente o serviço. Penso que nós temos também uma missão. Estes jovens que vêm da Suíça, do ponto de vista da fé, não são muito assíduos e zelosos e por isso creio que talvez nosso dever é aquele de ajudá-los a descobrir de um lado a organização da Igreja e do outro a aprofundar a própria fé. Isso é uma bela coisa. Se alguém tem confiança no Senhor, consegue fazer tantas coisas... Também a confiança na Divina Providência. Estou certo que se alguém vive a sua fé, consegue fazer muito melhor o seu serviço como guarda. Se depois alguém quando volta para casa, consegue viver e vive a fé como se deveria, isto é, vai pelo menos no domingo à missa, creio que o nosso trabalho não foi só um trabalho, com um fim em si próprio. Somos um pouco missionários. Isto é importante. Não devo só pedir o cumprimento das regras do serviço militar, mas também dar alguma coisa que os ajude a reforçar a própria fé. Vejo isto como um dos meus objetivos. Certo, me aguardam diversos trabalhos. Mas acho importante procurar criar um bom clima: seria feliz se pudermos dizer que somos uma família que vive junta, que trabalha junto, que todos se sentem bem. Creio que esse seja também o meu dever. Não só meu, mas do Comandante também. Com a ajuda de Deus esperamos conseguir!



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