domingo, 28 de novembro de 2010

Cristo torna-se presente nas celebrações litúrgicas


Compreender a Liturgia como "caminho de santidade", "fonte e ápice da vida eclesial" e "arte da oração" - são ensinamentos de João Paulo II na Carta Apostólica Spiritus et Sponsa, na qual o Papa põe em realce as normas estabelecidas por Paulo VI, há 40 anos, com a promulgação da Constituição Sacrosanctum Concilium.
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A Redenção encontra seu prelúdio nas admiráveis ações divinas do Antigo Testamento e foi cumprida por Cristo Senhor, de modo especial por intermédio do Mistério pascal da sua sagrada Paixão, Ressurreição da morte e gloriosa Ascensão. Todavia, ela precisa ser não apenas anunciada, mas também realizada, e é isto que acontece "por meio do Sacrifício e dos Sacramentos, em torno dos quais gravita toda a vida litúrgica". Cristo torna-se especialmente presente nas ações litúrgicas, associando a Igreja a Si mesmo. Cada celebração litúrgica é, pois, obra de Cristo Sacerdote e do seu Corpo Místico, "culto público integral", da qual se participa como um antegozo da Liturgia da Jerusalém celestial. Por este motivo, "a Liturgia é o ápice para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde promana toda a sua virtude". (...)
Caminho de santidade
O Concílio justamente afirma que cada ato litúrgico "é ação sagrada por excelência, e nenhuma outra ação da Igreja iguala sua eficácia da mesma forma e em igual nível". Ao mesmo tempo, o Concílio reconhece que "a sagrada Liturgia não esgota toda a ação da Igreja". Com efeito, por um lado a Liturgia supõe o anúncio do Evangelho e, por outro, exige o testemunho cristão na História. O mistério proposto na pregação e na catequese, acolhido com fé e celebrado na Liturgia, deve plasmar toda a vida dos fiéis, que são chamados a tornar-se arautos da mesma no mundo.
Além disso, a propósito das diversas realidades implicadas na celebração litúrgica, a Constituição dedica uma atenção especial à importância da música sacra. O Concílio exalta-a, indicando-lhe como finalidade "a glória de Deus e a santificação dos fiéis". Efetivamente, a música sacra constitui um instrumento privilegiado para facilitar a participação ativa dos fiéis na ação sagrada, como já desejava o meu venerado predecessor São Pio X, no Motu próprio Tra le sollecitudini (...). À distância de quarenta anos, é oportuno verificar o caminho percorrido. (...) "A Liturgia é vivida como ‘fonte e ápice' da vida eclesial, segundo o ensinamento da Sacrosanctum Concilium?"A redescoberta do valor da Palavra de Deus, que a reforma litúrgica levou a cabo, encontrou uma ressonância positiva no contexto das nossas celebrações? Até que ponto a Liturgia entrou na vida concreta dos fiéis e marca o ritmo de cada comunidade? Ela é compreendida como um caminho de santidade, força interior do dinamismo apostólico e do caráter missionário da Igreja? (...)
A celebração litúrgica alimenta a vida espiritual dos fiéis. É a partir da Liturgia que deve ser atuado o princípio que pude enunciar na Carta Apostólica Novo millennio ineunte: "Há necessidade de um cristianismo que se destaque principalmente pela arte da oração". A Sacrosanctum Concilium interpreta profeticamente esta urgência,estimulando a comunidade cristã a intensificar a vida de oração não apenas através da Liturgia, mas também dos "exercícios de piedade", contanto que estes sejam realizados em harmonia com ela, dela derivem e para ela conduzam. (...)
Resposta profunda e eficaz ao anseio do encontro com Deus
Olhando para o futuro, vários são os desafios que a Liturgia é chamada a enfrentar. Com efeito, durante estes quarenta anos a sociedade passou por profundas transformações, algumas das quais põem vigorosamente à prova o compromisso eclesial. Temos à nossa frente um mundo em que, também nas regiões de antiga tradição cristã, os sinais do Evangelho se vão atenuando. Chegou o tempo de uma nova evangelização. E a Liturgia é interpelada diretamente por este desafio. À primeira vista, ela parece ter sido posta de lado, por uma sociedade amplamente secularizada. Contudo, é certo que, apesar da secularização, no nosso tempo sobressai de muitas formas uma renovada necessidade de espiritualidade. Como deixar de ver nisto uma prova de que, no íntimo do homem, não é possível anular a sede de Deus? (...) Diante deste anseio pelo encontro com Deus, a Liturgia
oferece a resposta mais profunda e eficaz. E fá-lo especialmente na Eucaristia, na qual nos é concedido unirmos ao sacrifício de Cristo e alimentar-nos do seu Corpo e Sangue. (...)
A insubstituível tarefa dos Bispos: discernimento e orientação
Um aspecto que é preciso cultivar cuidadosamente em nossas comunidades é a experiência do silêncio. Temos necessidade dele "para acolher nos nossos corações a plena ressonância da voz do Espírito Santo, e para unir estreitamente a oração pessoal à Palavra de Deus e à voz pública da Igreja". Numa sociedade que vive de maneira cada vez mais frenética, muitas vezes atordoada pelos ruídos e perdida no efêmero, é vital redescobrir o valor do silêncio. (...) 

Entre os seus diversos momentos e sinais, a Liturgia não pode minimizar o silêncio. Através da introdução nas várias celebrações, a pastoral litúrgica deve incutir o gosto pela oração. (...) Na educação para a oração e, especialmente, na promoção da vida litúrgica, a tarefa dos Pastores é insubstituível. Ela implica um dever de discernimento e de orientação. (...) Através da orientação dos Pastores realiza-se, sobretudo, um princípio de "garantia", previsto pelo desígnio de Deus sobre a Igreja e ele mesmo governado pela assistência do Espírito Santo. 

A renovação litúrgica realizada ao longo destas décadas demonstrou a possibilidade de unir uma norma que assegure à Liturgia sua identidade e seu decoro, a espaços de criatividade e de adaptação que a aproximem das exigências específicas das várias regiões, situações e culturas. Não respeitando as normas litúrgicas, chega-se às vezes a abusos até mesmo graves, que ofuscam a verdade do mistério e criam desconcerto e tensões no meio do Povo de Deus. Estes abusos nada têm a ver com o autêntico espírito do Concílio e devem ser emendados pelos Pastores com uma atitude de determinação prudente.

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