domingo, 24 de janeiro de 2010

IGREJA ORTODOXA SÉRVIA TEM UM NOVO PATRIARCA

Roma, 23 jan (RV) – A Igreja Ortodoxa Sérvia tem um novo patriarca. Esse foi o anúncio proferido ontem após a reunião do Conselho Eclesiástico Eleitoral, ocorrido em Belgrado, na Sérvia. O 45º sucessor de Santo Sava é o Bispo Irinej de Nis.
O novo patriarca, cujo cargo é a máxima responsabilidade do especial Conselho Eclesiástico, será empossado amanhã, na Catedral de Belgrado. Seu título oficial a partir de então será arcebispado de Pec, metrópole de Belgrado-Karlovac e patriarca sérvio.
Irinej nasceu em 1930 na aldeia de Vodova perto de Cacak, na Sérvia Ocidental. Foi seminarista em Prizren no Kosovo, fez faculdade e pós-graduação em teologia, primeiramente em Belgrado e depois em Atenas.
Como religioso, exerceu os cargos de professor no Seminário de Belgrado, diretor da escola monástica do mosteiro de Ostrog em Montenegro, reitor do seminário em Prizren e, em 1975, foi eleito bispo diocesano de Nis, na Sérvia, berço do Imperador Constantino, o Grande. O antecessor de Irinej de Nis foi o Patriarca Pavle I, falecido em 15 de novembro do ano passado. (LC)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O silêncio na Liturgia: a sonoridade de Deus


A justa proporção entre palavras, gestos, movimentos e silêncio é fundamental para uma boa celebração litúrgica. O "silêncio sagrado" dá profundidade à oração.


Com a reforma litúrgica do Vaticano II, o silêncio enquanto tal entrou nas normas como parte integrante das celebrações. A Constituição Sacrosanctum Concilium - após determinar que se deve incentivar a participação ativa dos fiéis através das aclamações, respostas e cânticos - acrescenta: "Guarde-se também, em seu devido tempo, um silêncio sagrado" (SC 30). E a Instrução Geral do Missal Romano reafirma essa determinação, quase nos mesmos termos: "Oportunamente, como parte da celebração, deve-se observar o silêncio sagrado" (IGMR 23).


Como que para ressaltar a importância do silêncio nos atos litúrgicos, o Apocalipse nos mostra que ele era observado até na "grande liturgia celestial": "Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, fez-se silêncio no Céu durante cerca de meia hora" (Ap 8,1).


E o Pe. Antonio Alcalde exprime com pulcritude o bom efeito desses períodos em que cada fiel se recolhe para ouvir em seu coração a voz da graça: "Na música calada, na música divina do silêncio, na solidão sonora, na harmonia interior de cada um, Deus fará ressoar sua eterna melodia de amor para com todas as suas criaturas" (1).



"Um dos elementos de maior valor na celebração litúrgica"


O silêncio na Liturgia não é, portanto, um mero tempo de mutismo, nem de espera vazia, entre duas partes da celebração. Pelo contrário, ele é conatural com a oração, é uma abertura para Deus e um reencontro consigo mesmo. E longe de reduzir os fiéis a expectadores estranhos e mudos, ele os integra "mais intimamente no mistério que se celebra, em virtude das disposições interiores que derivam da palavra de Deus que se escuta, dos cantos e das orações, e da união espiritual com o sacerdote", conforme consta na Instrução Musicam sacram, de 5/3/1967, sobre o emprego da música na sagrada Liturgia.


E o sacerdote salesiano José Aldazábal afirma que ele "é um dos elementos de maior valor na celebração litúrgica" e "pode ser uma das formas mais expressivas de nossa participação nas celebrações" (2). O Pe. Antonio Alcalde é ainda mais categórico, pois o qualifica como sendo o auge da prece: "Deve-se explicar devidamente aos fiéis a razão do silêncio litúrgico, o qual não é o contrário da prece, mas constitui o auge da mesma". E acrescenta que ele "tem um valor
Na música divina do silêncio Deus faz ressoar sua eterna melodia de amor para com todas as suas criaturaspositivo com ordem a obter uma maior participação, um melhor culto a Deus e uma maior edificação dos fiéis" (3).


A melhor preparação para celebrar a Eucaristia


O melhor meio de se preparar devota e dignamente para a Celebração Eucarística é manter o silêncio no recinto sagrado, inclusive na sacristia e locais próximos.


A esse respeito, Mons. Peter J. Elliott assinala com toda clareza: "O silêncio é a melhor preparação para a Liturgia. Exceto alguma música apropriada, não se deve permitir nenhum menosprezo ao direito que o povo tem à tranqüilidade antes da Eucaristia. Por exemplo: não se deve permitir ensaios musicais ou de coro, nem avisos que podem ser dados mais tarde, nem distrações no presbitério ou em qualquer outro local" (4). Afirma também que os assistentes podem encontrar-se e conversar antes da Missa, mas em algum lugar bem separado do recinto onde ela será celebrada.


Se é tão importante a abstenção de falar e de perturbar com atividades inoportunas o recolhimento dos assistentes antes da Missa, mais ainda o é, obviamente, durante a Celebração.



Momentos de silêncio durante a Missa


O Missal Romano propõe vários intervalos de silêncio ao longo da Celebração da Eucaristia.


No Ato Penitencial, o sacerdote e os fiéis devem fazer juntos um momento de silêncio antes da oração "Confesso a Deus todo-poderoso".


Na Liturgia da Palavra, se parecer oportuno, pode-se observar um breve tempo de silêncio após cada leitura e também depois da homilia, para que todos tenham oportunidade de meditar brevemente sobre o que acabaram de ouvir.


A Preparação das Oferendas - esse ato tão denso da Celebração, em que, terminada a Liturgia da Palavra, vaise passar para a Oração Eucarística - é um momento especial para criar um ambiente de recolhimento e interiorização. Para isso pode-se contar com a ajuda de uma música de fundo ou de um coral que interprete alguma peça polifônica.


Terminada a distribuição da Comunhão, se for oportuno, o sacerdote e os fiéis oram algum tempo em silêncio, podendo a assembléia entoar ainda um hino, salmo ou outro cântico de louvor.


Comenta, a propósito, o Pe. Antonio Alcalde: "Se não forem incentivados esses silêncios, a Celebração pode converterse em uma sucessão de palavras, orações e ritos amontoados uns sobre os outros, e nos encontraremos envolvidos na assistência rotineira, na dispersão, no ruído e, sobretudo, na falta de participação" (5).


A Igreja dá tanta importância a esses períodos de recolhimento que os recomenda até mesmo nas Missas celebradas para as crianças, "para que não se conceda um lugar excessivo à ação externa, pois também as crianças, à sua maneira, são realmente capazes de meditar" e precisam aprender "a entrar em si mesmas e a meditar, rezar e louvar a Deus em seu coração" (6).



Finalidade dos intervalos de silêncio


Como se deduz facilmente pelo que foi dito acima, a natureza dos diversos intervalos de silêncio depende dos momentos da Liturgia em que eles são observados.


Assim, o silêncio recomendado antes de iniciar a Celebração, e o prescrito no Ato Penitencial, têm por finalidade mover os fiéis à concentração e ao recolhimento. Outros visam proporcionar aos assistentes um clima de meditação a respeito do que acabaram de ouvir nas leituras ou na homilia. Há também o silêncio que não pretende outra coisa senão o descanso e a espera, num ambiente de calma e tranqüilidade, como é o momento do Ofertório. Por fim, o tempo de recolhimento após a recepção do Corpo de Cristo cria uma atmosfera de interiorização e de apropriação, propícia aos atos de agradecimento e de louvor.


Outro conceituado tratadista de Liturgia, Juan Martín Velasco, acrescenta que é também indispensável na Missa o "silêncio de adoração", e diz que cada comunidade deve descobrir o ponto em que ele possa ser devidamente encaixado. Porque - explica ele - nenhuma celebração terá alcançado a altura religiosa exigível se, em determinado momento, "nós, que nela participamos, não cheguemos a ‘cair com o rosto em terra', a experimentar a insuficiência de nossas palavras, a torpeza de nossos melhores gestos, a inadequação de nossos pensamentos ante a Divina Majestade, o esplendor da beleza, a augusta santidade de nosso Deus" (7).



No silêncio, a inteligência engendra a palavra


Santo Antonio o Grande, no séc. IV, fazia notar o valor do silêncio enquanto fonte da palavra: "Ainda quando estejas calado, pensas. E se pensas, falas. Porque no silêncio a inteligência engendra a palavra. E a palavra de reconhecimento dirigida a Deus é a salvação do homem".


Necessitamos, pois, de períodos de calma e silêncio, nesta estafante vida hodierna. Sobretudo na Celebração litúrgica, precisamos de um clima favorável de encontro com o mistério que celebramos."Temos que evitar que a ansiedade própria da cultura moderna faça parte de nossa Liturgia", nos advertem com acerto Gabe Huck e Gerald Chinchar em sua obra Liturgia com Estilo e Graça (p.37).



1) Pastoral do Canto Litúrgico, p.183.

2) Gestos e Símbolos, pp. 88 e 91.

3) Op. cit., p.180.

4) Guía Práctico de Liturgia, pp.84-85.

5) Op. cit., p.181.

6) Diretório para as Missas com Crianças, 37.

7) Misa Dominical, p.36.

Bento XVI benze dois cordeiros brancos na Festa de Santa Inês

Publicado 2010/01/21
Author : Gaudium Press

Tradição remonta ao martírio da Santa que viveu em Roma nos primórdios do cristianismo. A lã dos animais será usada para a feitura de pálios que serão vestidos pelos arcebispos metropolitanos
Cidade do Vaticano (Quinta, 21-01-2010, Gaudium Press) Por ocasião do dia de Santa Inês, o Papa Bento XVI seguiu hoje uma centenária tradição. O pontífice benzeu, na capela Urbano VIII, dois cordeiros brancos cujas lãs serão usadas para confeccionar os pálios dos novos arcebispos metropolitanos. O rito da imposição do pálio aos arcebispos metropolitanos será realizado pelo Santo Padre no dia 29 de junho, data em que haverá a solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo.
O pálio (faixa de lã branca com seis cruzes pretas de seda) é uma insígnia litúrgica de honra e jurisdição empregada pelo Papa e pelos arcebispos metropolitanos nas suas igrejas e nas igrejas de suas províncias eclesiásticas.
Os cordeiros vieram da Basílica de Santa Inês e foram trazidos pelos cônegos regulares de Santo Agostinho aos quais a antiga igreja está confiada. Um dos animais veio enfeitado com flores brancas, simbolizando a virgindade de Santa Inês, enquanto o outro foi adornado com flores vermelhas significando o martírio da santa.
História de Santa Inês

De acordo com a Agência Ecclesia, Santa Inês é a mais famosa de todas as virgens e mártires dos primeiros tempos do cristianismo. Conta a história que com 13 anos ela foi pedida em casamento pelo jovem Procópio, filho do prefeito de Roma, por sua beleza, riqueza e virtude, mas recusou.

Por vingança, ela foi levada a julgamento e obrigada a incensa os ídolos de Roma, ação que também se recusou a fazer. Por fim, foi condenada à fogueira, mas o fogo não encostou nem mesmo os seus longos e belos cabelos. Acabou sendo decapitada por seus algozes.

O dia canônico de Santa Inês é celebrado em 21 de janeiro. Sua data é simbolizada por um cordeiro por que seu nome em latim (Agnes) é muito parecido com a palavra Agnus, que quer dizer cordeiro.

Sampa do samba e cultura

Shows musicais, eventos esportivos e atividades culturais prometem animar a festa de 456 anos de São Paulo.

Um dos mais esperados é a abertura ao público das alas secretas do Mosteiro de São Bento. Famoso pelas missas com canto gregoriano e pela loja de quitutes, o local - que abriga centenas de monges e hospedou o papa Bento XVI em sua visita à Capital em 2007 -, revelará pela primeira vez algumas dessas áreas para a exposição Arte e Espiritualidade, que reunirá obras contemporâneas de Carlos Eduardo Uchoa, José Spaniol e Marco Giannotti a partir de segunda-feira.

Salas do colégio e da faculdade, o parlatório e a capela do colégio são alguns dos espaços que poderão ser visitados. O claustro não será aberto, mas de uma das salas da exposição será possível ver o local onde os monges meditam.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

CRISTÃOS ORTODOXOS CELEBRAM A EPIFANIA NAS MARGENS DO JORDÃO

Roma, 20 jan (RV) – Milhares de cristãos ortodoxos foram, essa semana, ao rio Jordão para celebrar a Epifanía no local onde a tradição coloca o batismo de Jesus por João Batista.
Como todos os anos, o clima sensível do lugar, na fronteira entre a Jordânia e o território palestino da Cisjordânia ocupada por Israel, impediu os fiéis de mergulhar no rio bíblico, mas não tirou a beleza da tradição, com muitas orações, cânticos e danças.
Além dos palestinos, muitos cristãos de todo o mundo também participaram das festividades.
Segundo a agência EFE, o ritual começou no pequeno mosteiro de São João, há centenas de metros do rio, com uma missa celebrada pelo patriarca Greco Ortodoxo de Jerusalém, Teófilo III. Na cerimônia, o patriarca abençoado a todos em várias ocasiões. Em seguida, os fiéis fizeram uma procissão liderada pelos padres.
Ao chegar ao rio, o patriarca deu água há três pombas brancas, enquanto outro grande grupo de fiéis assistia à cena do lado jordaniano do rio.
O evento se assemelhava a uma passagem do Novo Testamento: "Assim como Jesus foi batizado, foi até a água. Naquele momento os céus se abriram e viu o Espírito de Deus para baixo como uma pomba e vindo sobre ele."
Com um céu escuro e algumas gotas de chuva, a cerimônia foi em um tom sério que moveu os peregrinos que acenderam velas, rezaram e cruzou-se com os dedos molhados em água do rio.
O lugar onde a tradição não só coloca o batismo de Jesus, mas também a entrada do Povo de Israel na Terra Prometida e a subida de Elias ao céu num carro de fogo, está cercado de minas e é considerado, por Israel, zona militar fechada desde que ele a assumiu em 1967.
Israel, que restringe o acesso ao local organiza visitas de quatro dias por semana, tem a intenção de abri-lo permanentemente para promover o turismo religioso, um dos seus interesses econômicos. (LC)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Audiência à Delegação Ecumênica da Igreja Luterana da Finlândia

Vatican Information Service, com tradução de CN Notícias

Às 12 horas da manhã de hoje, o Santo Padre Bento XVI recebeu em audiência uma Delegação Ecumênica da Igreja Luterana da Finlândia, por ocasião da Festa de Santo Henrique, ao comemorar o 25 º aniversário da Peregrinação Ecumênica a Roma.
Publicamos a seguir as palavras de saudação que o Papa dirigiu aos presentes:
Ilustres amigos,
Saúdo com afeto todos os membros de sua delegação ecumênica, que vieram a Roma para a celebração da festa de Santo Henrique. Esta ocasião marca o vigésimo quinto aniversário de vossa visita anual a Roma. É, pois, com gratidão que me recordo como essas reuniões tem contribuído significativamente para reforçar as relações entre os cristãos em vosso país.
O Concílio Vaticano II incentivou a Igreja Católica, "de modo irreversível, a percorrer o caminho da busca ecumênica, colocando-se assim à escuta do Espírito do Senhor, que ensina a ler com atenção os 'sinais dos tempos'"(Ut unum sint, 3). Este é o caminho que a Igreja Católica tem sinceramente abraçado desde aquela época. As Igrejas do Oriente e do Ocidente, ambas tradições presentes em seu país, partilham uma real, embora ainda imperfeita, comunhão. Este é um motivo para lamentar os problemas do passado, mas certamente também nos estimula a lançar esforços cada vez maiores para o entendimento e a reconciliação, para que a nossa amizade e diálogo fraternos possam florescer em uma perfeita e visível unidade em Jesus Cristo.
Vós mencionastes em sua mensagem a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, publicada há dez anos, que é um sinal concreto da fraternidade redescoberta entre luteranos e católicos. Neste contexto, alegro-me em notar o trabalho recente do diálogo nórdico Luterano-Católico na Finlândia e Suécia sobre as questões decorrentes da Declaração Conjunta. É extremamente desejável que o texto resultante do diálogo contribua positivamente para o caminho que leva à restauração de nossa unidade perdida.
Mais uma vez, alegro-me em expressar a minha gratidão pela sua perseverança nestes vinte e cinco anos de peregrinação em conjunto. Eles demonstram seu respeito pelo Sucessor de Pedro, bem como a sua boa-fé e desejo de unidade através do diálogo fraterno. É minha fervorosa oração que as diversas Igrejas cristãs e comunidades eclesiais que vós representais possam construir este sentimento de fraternidade tal como perseveram em nossa peregrinação em conjunto. Sobre vós e todos aqueles que estão sob seu cuidado pastoral, alegro-me em invocar as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.
Siga o Canção Nova Notícias no twitter.com/cnnoticias Conteúdo acessível também pelo iPhone - iphone.cancaonova.com

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

SE QUISERES CULTIVAR A PAZ, PRESERVA A CRIAÇÃO

MENSAGEM DE SUA SANTIDA DE BENTO XVI
PARA A CELEBRAÇÃO DO
DIA MUNDIAL DA PAZ
1 DE JANEIRO DE 2010

SE QUISERES CULTIVAR A PAZ, PRESERVA A CRIAÇÃO
1. Por ocasião do início do Ano Novo, desejo expressar os mais ardentes votos de paz a todas as comunidades cristãs, aos responsáveis das nações, aos homens e mulheres de boa vontade do mundo inteiro. Para este XLIII Dia Mundial da Paz, escolhi o tema: Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação. O respeito pela criação reveste-se de grande importância, designadamente porque «a criação é o princípio e o fundamento de todas as obras de Deus»[1] e a sua salvaguarda torna-se hoje essencial para a convivência pacífica da humanidade. Com efeito, se são numerosos os perigos que ameaçam a paz e o autêntico desenvolvimento humano integral, devido à desumanidade do homem para com o seu semelhante – guerras, conflitos internacionais e regionais, actos terroristas e violações dos direitos humanos –, não são menos preocupantes os perigos que derivam do desleixo, se não mesmo do abuso, em relação à terra e aos bens naturais que Deus nos concedeu. Por isso, é indispensável que a humanidade renove e reforce «aquela aliança entre ser humano e ambiente que deve ser espelho do amor criador de Deus, de Quem provimos e para Quem estamos a caminho».[2]

2. Na encíclica Caritas in veritate, pus em realce que o desenvolvimento humano integral
está intimamente ligado com os deveres que nascem da relação do homem com o ambiente natural, considerado como uma dádiva de Deus para todos, cuja utilização comporta uma responsabilidade comum para com a humanidade inteira, especialmente os pobres e as gerações futuras. Assinalei também que corre o risco de atenuar-se, nas consciências, a noção da responsabilidade, quando a natureza e sobretudo o ser humano são considerados simplesmente como fruto do acaso ou do determinismo evolutivo.[3] Pelo contrário, conceber a criação como dádiva de Deus à humanidade ajuda-nos a compreender a vocação e o valor do homem; na realidade, cheios de admiração, podemos proclamar com o salmista: «Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes, que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes?» (Sl 8, 4-5). Contemplar a beleza da criação é um estímulo para reconhecer o amor do Criador; aquele Amor que «move o sol e as outras estrelas».[4]

3. Há vinte anos, ao dedicar a Mensagem do Dia Mundial da Paz ao tema Paz com Deus criador, paz com toda a criação, o Papa João Paulo II chamava a atenção para a relação que nós, enquanto criaturas de Deus, temos com o universo que nos circunda. «Observa-se nos nossos dias – escrevia ele – uma consciência crescente de que a paz mundial está ameaçada (…) também pela falta do respeito devido à natureza». E acrescentava que esta consciência ecológica «não deve ser reprimida mas antes favorecida, de maneira que se desenvolva e vá amadurecendo até encontrar expressão adequada em programas e iniciativas concretas».[5] Já outros meus predecessores se referiram à relação existente entre o homem e o ambiente; por exemplo, em 1971, por ocasião do octogésimo aniversário da encíclica Rerum novarum de Leão XIII, Paulo VI houve por bem sublinhar que, «por motivo de uma exploração inconsiderada da natureza, [o homem] começa a correr o risco de a destruir e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação». E acrescentou que, deste modo, «não só o ambiente material se torna uma ameaça permanente – poluições e lixo, novas doenças, poder destruidor absoluto – mas é o próprio contexto humano que o homem não consegue dominar, criando assim para o dia de amanhã um ambiente global que se lhe poderá tornar insuportável. Problema social de grande envergadura, este, que diz respeito à inteira família humana».[6]

4. Embora evitando de intervir sobre soluções técnicas específicas, a Igreja, «perita em humanidade», tem a peito chamar vigorosamente a atenção para a relação entre o Criador, o ser humano e a criação. Em 1990, João Paulo II falava de «crise ecológica» e, realçando o carácter prevalecentemente ético de que a mesma se revestia, indicava «a urgente necessidade moral de uma nova solidariedade».[7] Hoje, com o proliferar de manifestações duma crise que seria irresponsável não tomar em séria consideração, tal apelo aparece ainda mais premente. Pode-se porventura ficar indiferente perante as problemáticas que derivam de fenómenos como as alterações climáticas, a desertificação, o deterioramento e a perda de produtividade de vastas áreas agrícolas, a poluição dos rios e dos lençóis de água, a perda da biodiversidade, o aumento de calamidades naturais, o desflorestamento das áreas equatoriais e tropicais? Como descurar o fenómeno crescente dos chamados «prófugos ambientais», ou seja, pessoas que, por causa da degradação do ambiente onde vivem, se vêem obrigadas a abandoná-lo – deixando lá muitas vezes também os seus bens – tendo de enfrentar os perigos e as incógnitas de uma deslocação forçada? Com não reagir perante os conflitos, já em acto ou potenciais, relacionados com o acesso aos recursos naturais? Trata-se de um conjunto de questões que têm um impacto profundo no exercício dos direitos humanos, como, por exemplo, o direito à vida, à alimentação, à saúde, ao desenvolvimento.

5. Entretanto tenha-se na devida conta que não se pode avaliar a crise ecológica prescindindo das questões relacionadas com ela, nomeadamente o próprio conceito de desenvolvimento e a visão do homem e das suas relações com os seus semelhantes e com a criação. Por isso, é decisão sensata realizar uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento e também reflectir sobre o sentido da economia e dos seus objectivos, para corrigir as suas disfunções e deturpações. Exige-o o estado de saúde ecológica da terra; reclama-o também e sobretudo a crise cultural e moral do homem, cujos sintomas há muito tempo que se manifestam por toda a parte.[8] A humanidade tem necessidade de uma profunda renovação cultural; precisa de redescobrir aqueles valores que constituem o alicerce firme sobre o qual se pode construir um futuro melhor para todos. As situações de crise que está atravessando, de carácter económico, alimentar, ambiental ou social, no fundo são também crises morais e estão todas interligadas. Elas obrigam a projectar de novo a estrada comum dos homens. Impõem, de maneira particular, um modo de viver marcado pela sobriedade e solidariedade, com novas regras e formas de compromisso, apostando com confiança e coragem nas experiências positivas realizadas e rejeitando decididamente as negativas. É o único modo de fazer com que a crise actual se torne uma ocasião para discernimento e nova projectação.

6. Porventura não é verdade que, na origem daquela que em sentido cósmico chamamos «natureza», há «um desígnio de amor e de verdade»? O mundo «não é fruto duma qualquer necessidade, dum destino cego ou do acaso, (…) procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participantes do seu Ser, da sua sabedoria e da sua bondade».[9] Nas suas páginas iniciais, o livro do Génesis introduz-nos no projecto sapiente do cosmos, fruto do pensamento de Deus, que, no vértice, colocou o homem e a mulher, criados à imagem e semelhança do Criador, para «encher e dominar a terra» como «administradores» em nome do próprio Deus (cf. Gn 1, 28). A harmonia descrita na Sagrada Escritura entre o Criador, a humanidade e a criação foi quebrada pelo pecado de Adão e Eva, do homem e da mulher, que pretenderam ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-se como suas criaturas. Em consequência, ficou deturpada também a tarefa de «dominar» a terra, de a «cultivar e guardar» e gerou-se um conflito entre eles e o resto da criação (cf. Gn 3, 17-19). O ser humano deixou-se dominar pelo egoísmo, perdendo o sentido do mandato de Deus, e, no relacionamento com a criação, comportou-se como explorador pretendendo exercer um domínio absoluto sobre ela. Mas o verdadeiro significado do mandamento primordial de Deus, bem evidenciado no livro do Génesis, não consistia numa simples concessão de autoridade, mas antes num apelo à responsabilidade. Aliás, a sabedoria dos antigos reconhecia que a natureza está à nossa disposição, mas não como «um monte de lixo espalhado ao acaso»,[10] enquanto a Revelação bíblica nos fez compreender que a natureza é dom do Criador, o Qual lhe traçou os ordenamentos intrínsecos a fim de que o homem pudesse deduzir deles as devidas orientações para a «cultivar e guardar» (cf. Gn 2, 15).[11] Tudo o que existe pertence a Deus, que o confiou aos homens, mas não à sua arbitrária disposição. E quando o homem, em vez de desempenhar a sua função de colaborador de Deus, se coloca no lugar de Deus, acaba por provocar a rebelião da natureza, «mais tiranizada que governada por ele».[12] O homem tem, portanto, o dever de exercer um governo responsável da criação, preservando-a e cultivando-a.[13]

7. Infelizmente temos de constatar que um grande número de pessoas, em vários países e regiões da terra, experimenta dificuldades cada vez maiores, porque muitos se descuidam ou se recusam a exercer sobre o ambiente um governo responsável. O Concílio Ecuménico Vaticano II lembrou que «Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos».[14] Por isso, a herança da criação pertence à humanidade inteira. Entretanto o ritmo actual de exploração põe seriamente em perigo a disponibilidade de alguns recursos naturais não só para a geração actual, mas sobretudo para as gerações futuras.[15] Ora não é difícil constatar como a degradação ambiental é muitas vezes o resultado da falta de projectos políticos clarividentes ou da persecução de míopes interesses económicos, que se transformam, infelizmente, numa séria ameaça para a criação. Para contrastar tal fenómeno, na certeza de que «cada decisão económica tem consequências de carácter moral»,[16] é necessário também que a actividade económica seja mais respeitadora do ambiente. Quando se lança mão dos recursos naturais, é preciso preocupar-se com a sua preservação prevendo também os seus custos em termos ambientais e sociais, que se devem contabilizar como uma parcela essencial da actividade económica. Compete à comunidade internacional e aos governos nacionais dar os justos sinais para contrastar de modo eficaz, no uso do ambiente, as modalidades que resultem danosas para o mesmo. Para proteger o ambiente e tutelar os recursos e o clima é preciso, por um lado, agir no respeito de normas bem definidas mesmo do ponto de vista jurídico e económico e, por outro, ter em conta a solidariedade devida a quantos habitam nas regiões mais pobres da terra e às gerações futuras.

8. Na realidade, é urgente a obtenção de uma leal solidariedade entre as gerações. Os custos resultantes do uso dos recursos ambientais comuns não podem ficar a cargo das gerações futuras. «Herdeiros das gerações passadas e beneficiários do trabalho dos nossos contemporâneos, temos obrigações para com todos, e não podemos desinteressar-nos dos que virão depois de nós aumentar o círculo da família humana. A solidariedade universal é para nós não só um facto e um benefício, mas também um dever. Trata-se de uma responsabilidade que as gerações presentes têm em relação às futuras, uma responsabilidade que pertence também a cada um dos Estados e à comunidade internacional».[17] O uso dos recursos naturais deverá verificar-se em condições tais que as vantagens imediatas não comportem consequências negativas para os seres vivos, humanos e não humanos, presentes e vindouros; que a tutela da propriedade privada não dificulte o destino universal dos bens;[18] que a intervenção do homem não comprometa a fecundidade da terra para benefício do dia de hoje e do amanhã. Para além de uma leal solidariedade entre as gerações, há que reafirmar a urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade entre os indivíduos da mesma geração, especialmente nas relações entre os países em vias de desenvolvimento e os países altamente industrializados: «A comunidade internacional tem o imperioso dever de encontrar as vias institucionais para regular a exploração dos recursos não renováveis, com a participação também dos países pobres, de modo a planificar em conjunto o futuro».[19] A crise ecológica manifesta a urgência de uma solidariedade que se projecte no espaço e no tempo. Com efeito, é importante reconhecer, entre as causas da crise ecológica actual, a responsabilidade histórica dos países industrializados. Contudo os países menos desenvolvidos e, de modo particular, os países emergentes não estão exonerados da sua própria responsabilidade para com a criação, porque o dever de adoptar gradualmente medidas e políticas ambientais eficazes pertence a todos. Isto poder-se-ia realizar mais facilmente se houvesse cálculos menos interesseiros na assistência, na transferência dos conhecimentos e tecnologias menos poluidoras.

9. Um dos nós principais a enfrentar pela comunidade internacional é, sem dúvida, o dos recursos energéticos, delineando estratégias compartilhadas e sustentáveis para satisfazer as necessidades de energia da geração actual e das gerações futuras. Para isso, é preciso que as sociedades tecnologicamente avançadas estejam dispostas a favorecer comportamentos caracterizados pela sobriedade, diminuindo as próprias necessidades de energia e melhorando as condições da sua utilização. Ao mesmo tempo é preciso promover a pesquisa e a aplicação de energias de menor impacto ambiental e a «redistribuição mundial dos recursos energéticos, de modo que os próprios países desprovidos possam ter acesso aos mesmos».[20] Deste modo, a crise ecológica oferece uma oportunidade histórica para elaborar uma resposta colectiva tendente a converter o modelo de desenvolvimento global segundo uma direcção mais respeitadora da criação e de um desenvolvimento humano integral, inspirado nos valores próprios da caridade na verdade. Faço votos, portanto, de que se adopte um modelo de desenvolvimento fundado na centralidade do ser humano, na promoção e partilha do bem comum, na responsabilidade, na consciência da necessidade de mudar os estilos de vida e na prudência, virtude que indica as acções que se devem realizar hoje na previsão do que poderá suceder amanhã.

10. A fim de guiar a humanidade para uma gestão globalmente sustentável do ambiente e dos recursos da terra, o homem é chamado a concentrar a sua inteligência no campo da pesquisa científica e tecnológica e na aplicação das descobertas que daí derivam. A «nova solidariedade», que João Paulo II propôs na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1990,[22] e a «solidariedade global», a que eu mesmo fiz apelo na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2009,[23] apresentam-se como atitudes essenciais para orientar o compromisso de tutela da criação através de um sistema de gestão dos recursos da terra melhor coordenado a nível internacional, sobretudo no momento em que se vê aparecer, de forma cada vez mais evidente, a forte relação que existe entre a luta contra a degradação ambiental e a promoção do desenvolvimento humano integral. Trata-se de uma dinâmica imprescindível, já que «o desenvolvimento integral do homem não pode realizar-se sem o desenvolvimento solidário da humanidade».[24] Muitas são hoje as oportunidades científicas e os potenciais percursos inovadores, mediante os quais é possível fornecer soluções satisfatórias e respeitadoras da relação entre o homem e o ambiente. Por exemplo, é preciso encorajar as pesquisas que visam identificar as modalidades mais eficazes para explorar a grande potencialidade da energia solar. A mesma atenção se deve prestar à questão, hoje mundial, da água e ao sistema hidrogeológico global, cujo ciclo se reveste de primária importância para a vida na terra, mas está fortemente ameaçado na sua estabilidade pelas alterações climáticas. De igual modo deve-se procurar apropriadas estratégias de desenvolvimento rural centradas nos pequenos cultivadores e nas suas famílias, sendo necessário também elaborar políticas idóneas para a gestão das florestas, o tratamento do lixo, a valorização das sinergias existentes no contraste às alterações climáticas e na luta contra a pobreza. São precisas políticas nacionais ambiciosas, completadas pelo necessário empenho internacional que há-de trazer importantes benefícios sobretudo a médio e a longo prazo. Enfim, é necessário sair da lógica de mero consumo para promover formas de produção agrícola e industrial que respeitem a ordem da criação e satisfaçam as necessidades primárias de todos. A questão ecológica não deve ser enfrentada apenas por causa das pavorosas perspectivas que a degradação ambiental esboça no horizonte; o motivo principal há-de ser a busca duma autêntica solidariedade de dimensão mundial, inspirada pelos valores da caridade, da justiça e do bem comum. Por outro lado, como já tive ocasião de recordar, a técnica «nunca é simplesmente técnica; mas manifesta o homem e as suas aspirações ao desenvolvimento, exprime a tensão do ânimo humano para uma gradual superação de certos condicionamentos materiais. Assim, a técnica insere-se no mandato de “cultivar e guardar a terra” (cf. Gn 2, 15) que Deus confiou ao homem, e há-de ser orientada para reforçar aquela aliança entre ser humano e ambiente em que se deve reflectir o amor criador de Deus.

11. É cada vez mais claro que o tema da degradação ambiental põe em questão os comportamentos de cada um de nós, os estilos de vida e os modelos de consumo e de produção hoje dominantes, muitas vezes insustentáveis do ponto de vista social, ambiental e até económico. Torna-se indispensável uma real mudança de mentalidade que induza a todos a adoptarem novos estilos de vida, «nos quais a busca do verdadeiro, do belo e do bom e a comunhão com os outros homens, em ordem ao crescimento comum, sejam os elementos que determinam as opções do consumo, da poupança e do investimento».[26] Deve-se educar cada vez mais para se construir a paz a partir de opções clarividentes a nível pessoal, familiar, comunitário e político. Todos somos responsáveis pela protecção e cuidado da criação. Tal responsabilidade não conhece fronteiras. Segundo o princípio de subsidiariedade, é importante que cada um, no nível que lhe corresponde, se comprometa a trabalhar para que deixem de prevalecer os interesses particulares. Um papel de sensibilização e formação compete de modo particular aos vários sujeitos da sociedade civil e às organizações não-governamentais, empenhados com determinação e generosidade na difusão de uma responsabilidade ecológica, que deveria aparecer cada vez mais ancorada ao respeito pela «ecologia humana». Além disso, é preciso lembrar a responsabilidade dos meios de comunicação social neste âmbito, propondo modelos positivos que sirvam de inspiração. É que ocu-par-se do ambiente requer uma visão larga e global do mundo; um esforço comum e responsável a fim de passar de uma lógica centrada sobre o interesse egoísta da nação para uma visão que sempre abrace as necessidades de todos os povos. Não podemos permanecer indiferentes àquilo que sucede ao nosso redor, porque a deterioração de uma parte qualquer do mundo recairia sobre todos. As relações entre pessoas, grupos sociais e Estados, bem como as relações entre homem e ambiente são chamadas a assumir o estilo do respeito e da «caridade na verdade». Neste contexto alargado, é altamente desejável que encontrem eficaz correspondência os esforços da comunidade internacional que visam obter um progressivo desarmamento e um mundo sem armas nucleares, cuja mera presença ameaça a vida da terra e o processo de desenvolvimento integral da humanidade actual e futura.

12. A Igreja tem a sua parte de responsabilidade pela criação e sente que a deve exercer também em âmbito público, para defender a terra, a água e o ar, dádivas feitas por Deus Criador a todos, e antes de tudo para proteger o homem contra o perigo da destruição de si mesmo. Com efeito, a degradação da natureza está intimamente ligada à cultura que molda a convivência humana, pelo que, «quando a “ecologia humana”é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental».[27] Não se pode pedir aos jovens que respeitem o ambiente, se não são ajudados, em família e na sociedade, a respeitar-se a si mesmos: o livro da natureza é único, tanto sobre a vertente do ambiente como sobre a da ética pessoal, familiar e social.[28] Os deveres para com o ambiente derivam dos deveres para com a pessoa considerada em si mesma e no seu relacionamento com os outros. Por isso, de bom grado encorajo a educação para uma responsabilidade ecológica, que, como indiquei na encíclica Caritas in veritate, salvaguarde uma autêntica «ecologia humana» e consequentemente afirme, com renovada convicção, a inviolabilidade da vida humana em todas as suas fases e condições, a dignidade da pessoa e a missão insubstituível da família, onde se educa para o amor ao próximo e o respeito da natureza.[29] É preciso preservar o património humano da sociedade. Este património de valores tem a sua origem e está inscrito na lei moral natural, que é fundamento do respeito da pessoa humana e da criação.

13. Por fim não se deve esquecer o facto, altamente significativo, de que muitos encontram tranquilidade e paz, sentem-se renovados e revigorados quando entram em contacto directo com a beleza e a harmonia da natureza. Existe aqui uma espécie de reciprocidade: quando cuidamos da criação, constatamos que Deus, através da criação, cuida de nós. Por outro lado, uma visão correcta da relação do homem com o ambiente impede de absolutizar a natureza ou de a considerar mais importante do que a pessoa. Se o magistério da Igreja exprime perplexidades acerca de uma concepção do ambiente inspirada no ecocentrismo e no biocentrismo, fá-lo porque tal concepção elimina a diferença ontológica e axiológica entre a pessoa humana e os outros seres vivos. Deste modo, chega-se realmente a eliminar a identidade e a função superior do homem, favorecendo uma visão igualitarista da «dignidade» de todos os seres vivos. Assim se dá entrada a um novo panteísmo com acentos neopagãos que fazem derivar apenas da natureza, entendida em sentido puramente naturalista, a salvação para o homem. Ao contrário, a Igreja convida a colocar a questão de modo equilibrado, no respeito da «gramática» que o Criador inscreveu na sua obra, confiando ao homem o papel de guardião e administrador responsável da criação, papel de que certamente não deve abusar mas também não pode abdicar. Com efeito, a posição contrária, que considera a técnica e o poder humano como absolutos, acaba por ser um grave atentado não só à natureza, mas também à própria dignidade humana.

14. Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação. A busca da paz por parte de todos os homens de boa vontade será, sem dúvida alguma, facilitada pelo reconhecimento comum da relação indivisível que existe entre Deus, os seres humanos e a criação inteira. Os cristãos, iluminados pela Revelação divina e seguindo a Tradição da Igreja, prestam a sua própria contribuição. Consideram o cosmos e as suas maravilhas à luz da obra criadora do Pai e redentora de Cristo, que, pela sua morte e ressurreição, reconciliou com Deus «todas as criaturas, na terra e nos céus» (Cl 1, 20). Cristo crucificado e ressuscitado concedeu à humanidade o dom do seu Espírito santificador, que guia o caminho da história à espera daquele dia em que, com o regresso glorioso do Senhor, serão inaugurados «novos céus e uma nova terra» (2 Pd 3, 13), onde habitarão a justiça e a paz para sempre. Assim, proteger o ambiente natural para construir um mundo de paz é dever de toda a pessoa. Trata-se de um desafio urgente que se há-de enfrentar com renovado e concorde empenho; é uma oportunidade providencial para entregar às novas gerações a perspectiva de um futuro melhor para todos. Disto mesmo estejam cientes os responsáveis das nações e quantos, nos diversos níveis, têm a peito a sorte da humanidade: a salvaguarda da criação e a realização da paz são realidades intimamente ligadas entre si. Por isso, convido todos os crentes a elevarem a Deus, Criador omnipotente e Pai misericordioso, a sua oração fervorosa, para que no coração de cada homem e de cada mulher ressoe, seja acolhido e vivido o premente apelo: Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação.

Vaticano, 8 de Dezembro de 2009.

Arquibasílica BÊNÇÃO DE S. João de Latrão



A inauguração do site da Basílica de San Giovanni in Laterano, catedral de Roma, dá-me a oportunidade de dirigir uma saudação cordial a todos que acessam estas páginas.
Com esta iniciativa, a herança de fé, história e cultura que tem de Latrão é disponibilizado para aqueles em todo o mundo vai querer o acesso a praticamente um que, de acordo com uma condição de idade, é chamado de "Mãe de todas as Igrejas Roma e do mundo. " Os visitantes do site será possível não só encontrar informações históricas sobre a Basílica e edifícios ligados a ele, que compõem o complexo de Latrão, mas também, graças às novas tecnologias, vão "viver" todos os edifícios.
Admirando o corredor principal, com as estátuas dos Apóstolos, a abside com mosaico e ao presidente do Bispo de Roma, a cúpula do altar papal, aqueles que visitam essas páginas terão a oportunidade de aprofundar a fé em forma de toda a construção e os outros terão a oportunidade de participar de uma catequese visual, o que irá ajudá-los a descobrir as razões da fé.
Eu confio muito que a ligação especial entre a Basílica de San Giovanni in Laterano e do Papa, que tem agora para a sua cadeira do Bispo, ajudar aqueles que navegam neste site para se sentir mais unido com o Santo Padre, para ouvir seus ensinamentos e de desenvolver uma maior membros da Igreja.


Latrão, November 9, 2009

Solenidade da Dedicação da Basílica de Latrão


Cardeal Agostino Vallini

Arcipreste da Basílica de Latrão

sábado, 2 de janeiro de 2010

Papa pede a deposição das armas no Dia Mundial da Paz


De Agencia EFE


Cidade do Vaticano, 1 jan (EFE).- O papa Bento XVI pediu hoje a deposição das armas de qualquer tipo na homilia pronunciada na missa celebrada pelo 43º Dia Mundial da Paz.
A primeira missa do ano 2010 na Basílica de São Pedro por Maria Mãe de Deus e ao mesmo tempo por causa do 43º Dia Mundial da Paz, foi celebrada pelo papa junto ao secretário de Estado, cardeal Tarsicio Bertone, e o cardeal Renato Raffaele Martino, presidente emérito do Conselho Pontifício Justiça e Paz.
O papa convidou a todos a se empenharem "na realização de projetos de paz, na deposição das armas e no trabalho conjunto pela construção de um mundo mais digno para o homem".
Bento XVI lembrou o sofrimento de milhares de crianças afetadas pelas guerras em tantas partes do mundo.
"Às vezes, os pequenos inocentes constituem uma chamada silenciosa a nossa responsabilidade".
O papa abordou também o respeito cristão com relação às diferentes culturas do mundo.
"A paz começa com um olhar respeitoso, que reconhece o rosto da outra pessoa, qualquer que seja a cor de sua pele, sua nacionalidade, sua língua, sua religião", disse.
Um respeito que, segundo o Pontífice, deve nascer de uma reflexão sobre "o rosto de Deus e do homem" porque "é um caminho privilegiado que conduz à paz".
Bento XVI referiu-se ainda ao meio ambiente: "se o homem se degrada, degrada também o ambiente em que vive".
Para o papa "se a cultura segue em direção ao niilismo, se não teórico, prático, a natureza não pode pagar as consequências".
O papa Ratzinger insistiu sobre a necessidade de educar as crianças com valores fundamentais do respeito ao ambiente.
É importante ser educado "desde criança" no respeito em direção ao outro "embora seja diferente de nós" e a uma "responsabilidade ecológica baseada no respeito do homem e de seus direitos e deveres fundamentais".
É preciso investir na educação com o objetivo, além das transmissões de noções técnico-científicas, "com uma ampla e profunda responsabilidade ecológica".
"Só assim o trabalho pelo ambiente pode se transformar de verdade em uma educação para a paz e a construção da paz".
Durante a cerimônia nenhuma medida de segurança foi adotada, após o incidente de noite do dia 24 de dezembro, no qual Bento XVI foi derrubado por uma mulher com transtornos mentais.
Os homens da polícia do Vaticano e a guarda suíça estiveram a seu lado como estava previsto pelo protocolo e o papa cumprimentou ao entrar em procissão à direita e à esquerda aos fiéis que abarrotavam a Basílica de São Pedro para seguir os ofícios no primeiro dia do Ano Novo.