Castel Gandolfo (Sexta-feira, 10-09-2010, Gaudium Press) Nesta sexta-feira de manhã, na Sala dos Suíços do palácio apostólico de Castel Gandolfo, o Papa Bento XVI recebeu todos os bispos brasileiros que compõem o Regional Nordeste 3 da CNBB (estados da Bahia e Sergipe) e estiveram em Roma nos últimos dias em visita "Ad Limina Apostolorum", sendo recebidos ao longo da semana separadamente pelo pontífice.
No começo do encontro, o bispo de Itabuna e presidente do Regional, Dom Ceslau Stanula, falou ao Papa em nome dos 28 prelados presentes. Em seu discurso a Bento XVI, Dom Ceslau revelou que os bispos esperavam ansiosamente pelo encontro com o Papa e que todos estavam em Roma como "sucessores dos apóstolos", para venerar os túmulos de São Pedro e São Paulo, visitarem o Bispo de Roma e reafirmar a comunhão com o Sucessor de Pedro.
No encontro, Dom Ceslau falou ao Papa em nome dos 28 prelados presentes |
Em seguida, Dom Ceslau reafirmou ao Papa o compromisso de todos os bispos do Regional em garantir uma formação sacerdotal adequada aos seminaristas e disse estar preocupado com o aumento do número de pessoas que se declaram sem religião.
"São pessoas que não se dizem ateias, mas indiferentes às realidades sobrenaturais, a qualquer religião; e o número destas está bastante elevado. Se houve, anos atrás, o crescimento das seitas, principalmente daquelas que confessam a chamada teologia da prosperidade, hoje o número delas está diminuindo, mas cresce o número dos sem religião. Como consequência diminui o número dos batizados e principalmente o dos casamentos religiosos", disse o bispo.
Outras preocupações regionais apresentadas por Dom Ceslau foram o crescimento das separações e dos segundos casamentos e a violência - em especial entre os jovens -, decorrente da pobreza, do desemprego, da fragilidade da vida familiar e do relativismo religioso. "Estes problemas nos questionam e nos interpelam a procurar novas formas da pastoral a fim de atingir essas pessoas (...)".
Dom Ceslau concluiu seus discurso pedindo para todos os fiéis, para todos da Bahia e Sergipe, a confortadora Bênção Apostólica do Santo Padre.
Evangelização mais profunda
Bento XVI, por sua vez, procurou enfatizar em suas recomendações aos bispos do Nordeste brasileiro que dessem prioridade à uma evangelização profunda dos fiéis, a afim de evitar que abandonem a Igreja e sejam absorvidos por outros credos em crescimento no país, em especial os evangélicos e neo-pentecostais.
"Há mais de cinco séculos, justamente na vossa região, se celebrava a primeira Missa no Brasil, tornando realmente presente o Corpo e o Sangue de Cristo para a santificação dos homens e das mulheres desta bendita nação que nasceu sob os auspícios da Santa Cruz. Era a primeira vez que o Evangelho de Cristo vinha a ser proclamado a este povo, iluminando a sua vida diária. Esta ação evangelizadora da Igreja Católica foi e continua sendo fundamental na constituição da identidade do povo brasileiro caracterizada pela convivência harmônica entre pessoas vindas de diferentes regiões e culturas. Porém, ainda que os valores da fé católica tenham moldado o coração e o espírito brasileiros, hoje se observa uma crescente influência de novos elementos na sociedade, que há algumas décadas eram-lhe praticamente alheios. Isso provoca um consistente abandono de muitos católicos da vida eclesial ou mesmo da Igreja, enquanto no panorama religioso do Brasil, se assiste à rápida expansão de comunidades evangélicas e neo-pentecostais".
Santo Padre demonstrou preocupação com que os fiéis abandonem a Igreja e sejam absorvidos por outros credos |
Para o Papa, as razões para o "êxito" destas crenças são diversas, entre elas a "sede de Deus" do povo. Mas Bento XVI vê claros sinais de falhas em "batizados não suficientemente evangelizados".
"É um indício de uma evangelização, a nível pessoal, às vezes superficial; de fato, os batizados não suficientemente evangelizados são facilmente influenciáveis, pois possuem uma fé fragilizada e muitas vezes baseada num devocionismo ingênuo, embora, como disse, conservem uma religiosidade inata. Diante deste quadro emerge, por um lado, a clara necessidade que a Igreja católica no Brasil se empenhe numa nova evangelização que não poupe esforços na busca de católicos afastados bem como daquelas pessoas que pouco ou nada conhecem sobre a mensagem evangélica, conduzindo-os a um encontro pessoal com Jesus Cristo, vivo e operante na sua Igreja".
Segundo o Papa, os pastores católicos devem também "estabelecer pontes" de contato com um diálogo ecumênico baseado na verdade como forma de debelar e minimizar esse êxodo. Bento XVI disse que é preciso ainda uma adequada formação histórica e doutrinal e enfatizou a defesa dos valores morais fundamentais contra o relativismo e o consumismo.
O Santo Padre concluiu concedendo a todos a sua Bênção Apostólica.
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