domingo, 1 de novembro de 2009

Bento 16 se encontra com chefe da Igreja Anglicana no dia 21 de novembro


O Papa Bento 16 se encontrará com o chefe da Igreja Anglicana, o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, no Vaticano, no dia 21 de novembro, pela primeira vez, desde a abertura da Igreja Católica aos tradicionalistas anglicanos, anunciou nesta sexta-feira a Santa Sé.

O encontro será o primeiro entre os dois líderes religiosos desde o anúncio pela Igreja Católica, no dia 20 de outubro, de sua abertura aos anglicanos decepcionados com a própria igreja. O arcebispo Rowan Williams participará, também, de celebrações organizadas pela Universidade Gregoriana para o 100º aniversário do nascimento do cardeal Johannes Willebrands, pioneiro do ecumenismo católico, morto em 2006.

Em meados de outubro, o Papa Bento 16 havia anunciado uma nova estrutura que torna mais fácil para os anglicanos, inclusive para os sacerdotes casados, voltar para o seio da Igreja Católica, respeitando certas tradições. O novo decreto papal, anunciado pelo cardeal americano William Joseph Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, permitirá a ordenação de sacerdotes católicos entre os antigos membros do clero anglicano, inclusive os casados, mas a ordenação de bispos anglicanos casados será vetada. O clero surgido do decreto terá uma liturgia especial. O cisma anglicano ocorreu em 1534, quando a Igreja da Inglaterra se desligou da Igreja Católica Romana por decisão de Henrique 8º, após a rejeição do Papa Clemente 7º a um pedido de anulação do casamento do rei inglês com Catarina de Aragão.

Em 2003, a Igreja Episcopal - nome da Igreja Anglicana nos Estados Unidos - ordenou bispo um homossexual, iniciando a divisão de uma comunidade religiosa que reúne 77 milhões de fieis em todo o mundo. A divisão se ampliou com a benção do casamento homossexual e com a ordenação de mulheres ao episcopado. A nova medida, que unifica parte dos movimentos ultraconservadores, foi classificada pelos vaticanistas como uma das "mais ousadas" já tomadas pelo papa alemão, conhecido por suas posições conservadoras. O arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, o líder espiritual anglicano, comentou que a decisão vaticana não implica "um ato de proselitismo ou agressão", e admitiu que soube do iminente decreto apostólico há algumas semanas.

Williams enfatizou, além disso, que é um sério erro achar que os recentes acontecimentos seriam uma resposta aos problemas internos da comunidade anglicana. Outros discordam. O vaticanista Vittorio Messori afirma que a Igreja Anglicana "foi incapaz de resistir à ideologia hegemônica de correção política, que vai contra a Bíblia", como afirmou ao jornal italiano "Il Sole 24 Ore". "A Igreja Anglicana está se fragmentando, mas mesmo que meio milhão de pessoas a abandonem, isso não vai afetar a tendência, que é irreversível", ressaltou. No entanto, o anúncio papal foi descrito como "um desenvolvimento potencialmente explosivo nas relações anglicana-católicas desde a Reforma", chegou a afirmar o jornal "The Times" na época. "Bispos desesperados convidaram Roma a estacionar seu tanques no gramado do Arcebispado", afirma a matéria. A decisão de Bento 16 foi anunciada, além disso, poucos dias antes de uma reunião crucial com dirigentes do movimento ultraconservador católico lefebvrista, com os quais o Papa tenta há anos a reconciliação depois do cisma de 1988, apesar de alguns de seus líderes questionarem o Holocausto nazista. "Com esta estrutura jurídica se abre o caminho para a integração de outros grupos, como os lefebvristas e vários movimentos protestantes e ortodoxos", explicou o vaticanista do jornal "La Repubblica", Marco Politi. "Todos os passos que o Vaticano está tomando estão dirigidos para a tradição", enfatizou, por sua parte, Sandro Magister, vaticanista da revista "L'Espresso".


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