terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A Regra de São Bento

Em São Bento se enfeixam e se articulam os primeiros três séculos da experiência monástica cristã, na Europa e no Oriente Próximo. A Regra dos mosteiros que ele nos deixou é a expressão dessa experiência sintetizada, somada à sua vivência de santidade, ao seu gênio legislativo e ao seu fino conhecimento da psicologia humana.Por seu equilíbrio e fidelidade evangélica a Regra logo se espalhou por toda a Europa, instaurando aquele modo de vida de oração, estudo e trabalho, que garantiu a conservação da cultura antiga no seio dos povos bárbaros, orientou a educação dos jovens e animou a educação de muitos países. Por sua solidez espiritual e jurídica, a Regra edificou os mosteiros beneditinos que foram os focos irradiantes da fé e da cultura em toda a Idade Média - período no qual se plasmaram as atuais nações e línguas européias. É por isso que São Bento è venerado como patrono da Europa.Assim começa o Prólogo da Regra beneditina: "Escuta, filho, os preceitos do Mestre, e inclina o ouvido do teu coração; recebe de boa vontade e executa fielmente o conselho de um bom pai, para que voltes, pelo labor da obediência, àquele de quem te afastastes pela desídia da desobediência. A ti, pois, se dirige agora a minha palavra, quem quer que sejas que, renunciando às próprias vontades, empunhas as gloriosas armas da obediência para militar sob o Cristo Senhor, verdadeiro Rei".

São Bento - Sua vida

Bento nasceu na Itália, numa pequena cidade chamada Núrsia, no ano de 480. Sua família pertencia à pequena nobreza de proprietários rurais. Antes dos 20 anos de idade foi mandado para Roma, a capital e maior cidade do mundo conhecido de então, a fim de estudar letras. Mas Bento não se adaptou aos ambientes acadêmicos e sociais decadentes que encontrou, sentia necessidade de algo diferente. Partiu novamente para o interior e, depois de algum tempo, retirou-se completamente para "habitar consigo mesmo", na expressão dos "Diálogos" de São Gregório Magno, o mais antigo cronista de sua vida.Procurar a Deus de verdade: esta era a aspiração de Bento. Por isso, na radicalidade de seu espírito jovem e resoluto, confrontou-se com as opções fundamentais do Evangelho: a pobreza, a disponibilidade total a Deus, a escuta e o aprofundamento de sua Palavra. Tornou-se monge. Passou a viver solitariamente numa gruta, em Subiaco (em latim antigo: "sub lacum").A providência o encaminhou para Monte Cassino, onde permaneceu até o fim da vida e fundou o grande mosteiro que até hoje è venerado como o tronco de todas as casas beneditinas. Lá viveu e escreveu a Regra de vida que guiou o caminho de incontáveis gerações de santos e monges e até hoje orienta nossa vida monástica. Perto de lá sua irmã, Escolástica, deu inicio ao ramo feminino da ordem de São Bento, observando, a mesma Regra por ele estabelecida.

Quem São os Monges?

A identidade do monge se define pela escolha de um modo de vida que é ao mesmo tempo marginal e implicitamente crítico em relação à sociedade em geral e nos nossos tempos, especialmente em relação à sociedade de consumo. Um monge não foge do mundo, nem o odeia, mas dele se afasta. Renuncia a si mesmo e aos bens que poderia obter para si no mundo, para seguir ao Cristo no deserto, lugar de sofrimento e tentações, mas também de autenticidade e encontro.Assim, colocando-se à certa distância da sociedade, livre de suas convenções e imperativos, o monge entrega-se totalmente ao Cristo e assume uma disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradição espiritual que lhe é transmitida por um mestre e uma comunidade.Sendo alguém que busca a Deus, o monge se dispõe a um contínuo e entusiasmado processo de conversão no dia a dia de sua vida comunitária. A comunidade torna-se a "escola do serviço do Senhor", reunida em torno de um pai (Abade), sinal de Deus que é Pai.Na comunidade aprende-se a arte de perdoar e amar, de deixar-se gradualmente completar, em sua personalidade, pelas riquezas dos outros. Este processo de crescimento alimenta-se no diálogo constante, pessoal e comunitário com Deus na oração, verdadeira respiração vital da presença do Espírito. E a oração une-se naturalmente ao trabalho manual ou intelectual, realizado por todos em espírito de oferenda e como serviço aos homens.Toda esta caminhada conduz, pela graça, a uma transformação interior e a um aprofundamento da consciência e da percepção, chegando a uma experiência no mais profundo do ser.A vida do monge é toda alicerçada na fé, experimentando constantemente a morte e Ressurreição em Cristo, com tudo o que isso implica: despojamento, humildade, paz, serviço, alegria, liberdade. Dentro do mosteiro o monge permanece aberto às necessidades dos homens e ao acolhimento. É livre para encontrar e amar a todos. E quer ser, segundo a vontade de Deus, um instrumento de seu Reino.

Vida Monástica

O monaquismo brotou na Igreja num momento de grave desafio: saindo da clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das perseguições, a Igreja viu-se colocada na situação oposta: foi necessário assumir no inicio do século IV o papel de religião oficial do império. Ela corria o risco de ser tragada por essa difícil convivência com o poder, deixando que seus valores e a simplicidade de suas origens fossem abafadas.Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidão do deserto e numa vida extremamente pobre, o clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro com Deus. Eles mantiveram viva a ligação da Igreja com suas fontes espirituais. Embora seja um modo de vida especial, a vocação monástica desde então sempre conservou-se na Igreja.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Papa nomeia novo bispo para Jataí, interior de Goiás
Da Redação, CNBB

Assessoria
Padre José Luiz Majella Delgado, CSSR - novo Bispo de Jataí (GO)

O Papa Bento XVI nomeou hoje, 16, o subsecretário-geral adjunto da CNBB, padre José Luiz Majella Delgado, CSSR, como novo bispo para a Diocese de Jataí (GO). Padre Majella substituirá Dom Aloísio Hilário de Pinho, PODP, que teve sua renúncia aceita pelo Santo Padre, por causa da idade, conforme prevê o cânon 401 §1º.
Surpreso e emocionado, padre Majella, como é conhecido, vê sua nomeação como um chamado de Deus e um serviço à Igreja. “Senti que era um chamado de Deus e obedeço. Não sei porque razão o Senhor está me chamando, mas Ele sabe”, disse. “Acolho este chamado também como cruz, porque a cruz é sinal de redenção”.
Sobre a diocese que lhe será confiada, ele confessa que não sabia nem onde ficava. “Tive que olhar no mapa e, desde que identifiquei a cidade, já comecei a rezar e a amar o povo”, observou.
Padre Majella disse que se inspirou em Josué ao aceitar a nova missão. Josué foi o líder que Deus escolheu para substituir Moisés na condução do povo de Israel para a terra prometida. “Uma figura bíblica que ficou no meu coração foi Josué, quando Deus entregou-lhe o povo de Israel, no lugar de Moisés. Deus disse a Josué, ‘Eu estarei com você seja firme e corajoso. Não tenda nem para esquerda nem para a direita’. É isso que quero fazer: sentar-me no chão para não fazer acepção de pessoas”, contou padre Majella.
Sua ordenação episcopal está marcada para o dia 27 de fevereiro, às 18h, no Santuário Nacional de Aparecida. O bispo ordenante será o presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha. O novo bispo terá como lema episcopal: “Servir com amor”.
“Tenho muito a agradecer a Deus por estar na CNBB, que está sendo uma verdadeira escola para mim. Através de minha vida aqui acolho este chamado, este serviço, em total comunhão com os bispos da Igreja”, acentuou.
Biografia
Mineiro de Juiz de Fora, padre Majella, 56, nasceu no dia 19 de outubro de 1953. Aos dois anos, mudou-se com a família para Volta Redonda (RJ). Fez o ensino fundamental em Volta Redonda (RJ) e Aparecida (SP) onde fez também o ensino médio, no Seminário Redentorista Santo Afonso. Na faculdade Salesiana de Filosofia, em Lorena (SP), fez licenciatura em Estudos Sociais e em Filosofia.
Em 1977 fez sua profissão religiosa e iniciou, no mesmo ano, o cursou deTeologia no Instituto Teológico São Paulo (ITESP), concluído em 1980.
No dia 14 de março de 1981, foi ordenado padre, em Volta Redonda (MG) e, dez anos depois, fez especialização em teologia litúrgica na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. Em 2000, foi para Roma onde estudou Espiritualidade Redentorista na Academia Alfonsiana.
Como padre dedicou grande parte de seu ministério ao magistério. Foi professor no Seminário Redentorista de Aparecida; no Centro de Evangelização Missionária, em São Paulo. Foi também superior e diretor dos Seminários Redentoristas em Sacramento (MG) e em Aparecida (SP); secretário da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (OSIB) no Regional Leste 2 da CNBB; secretário da Associação dos Liturgistas do Brasil; prefeito de Igreja do Santuário Nacional de Aparecida; vigário paroquial em Sacramento e na Basílica de Aparecida; secretário executivo local para a V Conferência dos Bispos da América Latina e Caribe, em Aparecida, no ano de 2007, tornando-se, em seguida, assessor da CNBB.

sábado, 12 de dezembro de 2009

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O que é a verdade?

O homem vive à procura da verdade. Ama-a quando ela se lhe manifesta, e pode chegar a odiá-la quando ela o repreende... Tal é o espírito humano, sem o auxílio da graça divina.

Conta-se que, certa feita, querendo pregar uma peça em São Tomás de Aquino, alguns frades começaram a chamá-lo com insistência:

- Vem ver um burro voando!

E aguardaram ansiosos sua reação, prontos a rir-se do irmão de hábito. Acorreu o santo ao local e pôs-se a perscrutar os ares à procura do inusitado fenômeno, enquanto os outros desatavam em gargalhadas, criticando- o:

- Mas, homem de Deus! Como podes ser tão ingênuo? Tu, que pareces conhecer tudo, deverias saber que é impossível burros voarem.

A brincadeira cessou de modo imprevisto, quando Frei Tomás respondeu com seriedade:

- É que me parece coisa mais possível ver um burro voar do que religiosos mentirem...1

Essa curiosa história nos introduz em um apaixonante tema: mentira, verdade... o que é a verdade?

Se considerarmos com atenção, veremos tratar-se do problema mais elementar que todo homem se põe no íntimo de seu ser. A todo momento, em tudo quanto observa ou pensa, em tudo aquilo que sente, o homem tem uma propensão, uma aspiração ou uma inclinação a buscar uma certeza, uma verdade na qual se basear. Daí vem o famoso "Por quê?" das crianças, que querem saber de tudo; em sua inocência, elas se admiram e se encantam diante de um mundo novo que oferece, às suas mentes ansiosas de conhecer, uma infinidade de atraentes questões.


Conformidade entre a realidade e o pensamento

Em vista disso, o que é a verdade? Foi esta a pergunta, carregada de ironia, feita por Pilatos Àquele que afirmou de Si: "Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a Minha voz" (Jo 18, 37).

A mesma indagação, muitos a fazem hoje, sem encontrar resposta satisfatória. Habitualmente, conceitua- se a verdade como a conformidade entre o que se pensa e a realidade. Assim a entenderam fundamentalmente a Filosofia clássica e a escolástica, desde Aristóteles, para quem a verdade consiste em afirmar o que é e negar o que não é; e São Tomás a define como a adequação da coisa e do intelecto: "veritas est adæquatio rei et intellectus".2

A humildade, primeiro requisito para alcançar a verdade

De sua parte, com seu característico estilo, Santa Teresa de Jesus vincula estreitamente a verdade à virtude da humildade. Assim escreve ela em seu famoso livro As Moradas ou Castelo:

"Certa vez estava eu refletindo sobre a razão pela qual Nosso Senhor é tão amigo desta virtude da humildade, e logo ocorreu-me o seguinte: é porque Deus é a suma verdade, e a humildade consiste em andar na verdade". Depois de explicar que "anda na verdade" quem não faz bom conceito de si mesmo, mas reconhece que, de si, é nada e miséria, a grande doutora da Igreja acrescenta: "Quem não entende isso, anda na mentira. E a quem mais entende isso, mais agrada a suma verdade, porque anda nela".3

Desse modo, a mística de Ávila nos ensina a atitude que devemos assumir diante de nosso Deus e Criador. É necessário aceitar Sua soberania e onipotência, o que implica reconhecer em nós - e nos outros - tanto as qualidades, virtudes e dons que o Criador nos tenha outorgado em Sua infinita liberalidade, quanto nossos pecados, defeitos e erros, que devemos não somente detestar, mas procurar corrigir. Ou seja, quem ama e pratica a virtude da humildade, não tergiversa nem manipula a verdade de acordo com sua própria conveniência, mas encara a realidade como ela é, objetivamente.

Com razão afirma o Papa Bento XVI, na introdução de sua Encíclica Caritas in veritate:

"Defender a verdade, propô-la com humildade e convicção e testemunhála na vida são formas exigentes e imprescindíveis de caridade. Esta, de fato, ‘rejubila com a verdade' (I Cor 13, 6). Todos os homens sentem o impulso interior para amar de maneira autêntica: amor e verdade nunca desaparecem de todo neles, porque são a vocação colocada por Deus no coração e na mente de cada homem. Jesus Cristo purifica e liberta das nossas carências humanas a busca do amor e da verdade e desvenda-nos, em plenitude, a iniciativa de amor e o projeto de vida verdadeira que Deus preparou para nós. Em Cristo, a caridade na verdade torna-se o Rosto da Sua Pessoa, uma vocação a nós dirigida para amarmos os nossos irmãos na verdade do seu projeto. De fato, Ele mesmo é a Verdade (cf. Jo 14, 6)".

São Tomás de Aquino, o "apóstolo da verdade"

É conhecida a afirmação do Aquinate: "Omne verum, a quocumque dicatur, a Spiritu Santo est" - "toda verdade, dita por quem quer que seja, vem do Espírito Santo".4 Com isto nos ensina que, "para o conhecimento de uma verdade, de qualquer ordem que seja, alguém precisa do auxílio divino para que o intelecto seja movido por Deus ao seu ato".5 Este anelo da verdade mereceu ao Doutor Angélico o reconhecimento de vários Papas, entre os quais Paulo VI:

"Esse afã de procurar a verdade, entregando-se a ela sem regatear qualquer esforço - afã que São Tomás considerou a missão específica de toda a sua vida, e cumpriu eximiamente em seu magistério e em seus escritos - faz com que se possa denominá-lo com toda razão ‘apóstolo da verdade', e propô-lo como exemplo a todos quantos desempenham a função de ensinar. Contudo, ele brilha a nossos olhos também como admirável modelo de erudito cristão que, para captar as novas preocupações e dar resposta às novas exigências do progresso cultural, não sente necessidade de sair das vias da Fé, da Tradição e do Magistério, que as riquezas do passado e o selo da verdade divina lhe proporcionam".6

O princípio de não-contradição

Um princípio fundamental da Filosofia se encontra na base da verdade: o princípio de não-contradição, segundo o qual uma coisa não pode ser e não ser, sob o mesmo aspecto e ao mesmo tempo. Como princípio, é evidente e dispensa demonstração, pois, por assim dizer, a inteligência pode apreendê-lo intuitivamente. Para alcançar a verdade, o homem deve construir seu pensamento tendo como base este princípio, pois do contrário cairá no erro e na confusão. Princípio proclamado pela própria Sabedoria Eterna e Encarnada, ao advertir os discípulos: "Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não. O que passa disso vem do Maligno" (Mt 5, 37). De forma mais categórica ainda, o livro do Apocalipse manifesta quanto o Senhor aprecia a veracidade e a coerência: "Ao Anjo da igreja que está em Laodiceia, escreve: ‘Assim fala o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço a tua conduta. Não és frio, nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitarte de Minha boca'" (Ap 3, 14-16).

É obrigação moral manter-se na verdade

Para esclarecer o assunto de como pode a razão humana conhecer a verdade e de que, uma vez conhecida esta, tem-se o dever moral de segui-la, o conceituado filósofo espanhol Jaime Balmes aborda o tema de como o caráter racional do homem requer que suas ações possuam um fundamento na razão, por ser esta a mais importante de suas faculdades:

"É claro que a inteligência não pode ficar indiferente ante a verdade e o erro, e sua perfeição consiste no conhecimento da verdade; por isso temos o dever de buscá-la. E quando não empregamos a inteligência nesse objetivo, abusamos da melhor de nossas faculdades. O objeto da inteligência é a verdade, porque a verdade é o ser; e o nada não pode ser objeto de nenhuma faculdade. Quando conhecemos o ser, conhecemos a verdade; por conseguinte, temos o dever de procurar o conhecimento da realidade das coisas. Se, por indolência, paixão ou capricho, extraviamos nossa inteligência, fazendo- a consentir no erro - seja por criar como existentes objetos que não existem, ou como não existentes os existentes; seja por atribuir-lhes relações que não têm, ou negar-lhes as que têm -, cometemos uma falta contra a lei moral, porque nos afastamos da ordem prescrita à nossa natureza pela sabedoria infinita. O amor à verdade não é uma simples qualidade filosófica, mas um verdadeiro dever moral. Procurar ver nas coisas o que existe, e nada mais do que aquilo que existe, que é no que consiste o conhecimento da verdade, não é apenas um conselho da arte de pensar: é também um dever prescrito pela lei do agir bem".

De onde se compreende a advertência feita pelo Divino Mestre aos que não querem andar nos caminhos da verdade: "O vosso pai é o diabo, e quereis cumprir o desejo do vosso pai. Ele era assassino desde o começo e não se manteve na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele fala mentira, fala o que é próprio dele, pois ele é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8, 44).

A unidade da verdade: postulado fundamental da razão humana

Assim, pois, já que toda verdade, todo bem e toda beleza provêm de Deus como de sua fonte, é impossível haver contradição na verdade. O que pode variar é o caminho para se chegar a ela, a partir da Fé, da Filosofia ou da ciência. Mas, como ocorre em toda a Criação, há uma hierarquia e uma ordem admiráveis também na esfera do conhecimento.

Somos criaturas especialmente complexas, tendo algo de espiritual e algo de material. Pois bem, o espírito é superior à matéria, a ordem sobrenatural é superior à ordem natural, de maneira que o estudo daquilo que se refere a Deus é superior, pelo seu próprio objeto, a qualquer outro. Isso não tira nem diminui a importância, a utilidade e a necessidade do estudo do universo. Para isso, o ser humano - criatura racional feita à imagem e semelhança de Deus - possui a inteligência, que o leva a querer investigar o universo. Bem ordenada, essa inteligência, por si só, pode e deve conduzir a seu Criador; iluminada pela luz da Fé, chegará inclusive a discernir os mistérios e as verdades da ordem sobrenatural:

"Esta verdade, que Deus nos revela em Jesus Cristo, não está em contraste com as verdades que se alcançam filosofando. Pelo contrário, as duas ordens de conhecimento conduzem à verdade na sua plenitude. A unidade da verdade já é um postulado fundamental da razão humana, expresso no princípio de não contradição. A Revelação dá a certeza desta unidade, ao mostrar que Deus criador é também o Deus da história da salvação. Deus que fundamenta e garante o caráter inteligível e racional da ordem natural das coisas, sobre o qual os cientistas se apoiam confiadamente, é o mesmo que Se revela como Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta unidade da verdade, natural e revelada, encontra a sua identificação viva e pessoal em Cristo, como recorda o Apóstolo Paulo: ‘A verdade que existe em Jesus' (Ef 4, 21; cf. Cl 1, 15-20). Ele é a Palavra eterna, na qual tudo foi criado, e ao mesmo tempo é a Palavra encarnada que, com toda a Sua pessoa, revela o Pai (cf. Jo 1, 14.18). Aquilo que a razão humana procura ‘sem o conhecer' (cf. At 17, 23), só pode ser encontrado por meio de Cristo: de fato, o que nEle se revela é a ‘verdade plena (cf. Jo 1, 14-16) de todo o ser que, nEle e por Ele, foi criado e, por isso mesmo, nEle encontra a sua realização (cf. Cl 1, 17)".7

A verdade impõe deveres

Por isso, a razão humana, quanto mais se aprofunda no estudo do universo, mais se admira ao conhecer sua perfeição, sua harmonia e sua beleza, que nunca podem ser produto do acaso, do mesmo modo como não pode acontecer que milhares de letras lançadas por uma janela componham, ao cair, a Divina Comédia, de Dante. De onde podemos concluir que sábio e inteligente não é somente quem muito conhece ou entende, mas sobretudo quem, admirando a obra de arte que é a criação, remonta ao Criador. Pois ninguém é tolo a ponto de, contemplando uma maravilha da técnica ou uma obra de arte, acreditar que não teve autor ou causa.

Não obstante, quando o homem orgulhosamente viola esse natural afã pela verdade, instala-se em seu espírito a desordem; na sua mente, a confusão; em suas ideias, o caos; e cairá mais tarde em crises psicológicas, morais e espirituais que podem atingir todos os âmbitos de sua existência. De maneira que, quem erige "sua" verdade, constrói sua alma sobre a areia movediça do individualismo e do egoísmo mais exacerbado, com as trágicas sequelas que derivam de quem se coloca como origem e medida da verdade. De outro lado, quem adere à Verdade alcança, junto com ela, a liberdade: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos tornará livres" (Jo 8, 32). O Papa Bento XVI, na Missa Crismal da Quinta- Feira Santa deste ano, explica os deveres que a verdade impõe:

"Ser imersos na verdade e, deste modo, na santidade de Deus significa para nós também aceitar o caráter exigente da verdade; contrapor- se, tanto nas coisas grandes como nas pequenas, à mentira, que de modo tão variado está presente no mundo; aceitar a fadiga da verdade, porque a sua alegria mais profunda está presente em nós. Quando falamos de ser consagrados na verdade, também não devemos esquecer que, em Jesus Cristo, verdade e amor são uma coisa só. Ser imersos nEle significa ser imersos na Sua bondade, no amor verdadeiro".8

De maneira que o homem, tendo conhecido a verdade, deve segui-la, e aceitar seus conselhos como se tratasse de seu melhor amigo, de acordo com a famosa frase atribuída ao Estagirita: "Amicus Plato, sed magis amica veritas - Platão é amigo, porém, mais amiga é a verdade".9 Esse caminho em busca da verdade exige do homem uma atitude de aceitação dela e de rejeição do erro, como explica João Paulo II:

"‘Todos os homens desejam saber' (Aristóteles, Metafísica, I, 1) e o objeto próprio deste desejo é a verdade. A própria vida cotidiana demonstra o interesse que tem cada um em descobrir, para além do que ouve, a realidade das coisas. Em toda a criação visível, o homem é o único ser que é capaz não só de saber, mas também de saber que sabe, e por isso se interessa pela verdade real daquilo que vê. Ninguém pode sinceramente ficar indiferente quanto à verdade do seu saber. Se descobre que é falso, rejeita- o; se, pelo contrário, consegue certificar- se da sua verdade, sente-se satisfeito. É a lição que nos dá Santo Agostinho, quando escreve: ‘Encontrei muitos com desejos de enganar outros, mas não encontrei ninguém que quisesse ser enganado' (Confissões, X, 23, 33: CCL 27,173). Considerase, justamente, que uma pessoa alcançou a idade adulta, quando consegue discernir, por seus próprios meios, entre aquilo que é verdadeiro e o que é falso, formando um juízo pessoal sobre a realidade objetiva das coisas. Está aqui o motivo de muitas pesquisas, particularmente no campo das ciências, que levaram, nos últimos séculos, a resultados tão significativos, favorecendo realmente o progresso da humanidade inteira".10

A verdade engendra o ódio

Diante desse panorama, como se pode explicar o fato de Jesus Cristo - o Caminho, a Verdade e a Vida - ter sido perseguido por aqueles que diziam procurar a verdade, a ponto de crucificá-Lo entre dois ladrões?

A isso responde o imortal Doutor da Graça. Comentando a famosa frase de Terêncio, "Veritas odium parit" (A verdade engendra o ódio), Santo Agostinho se pergunta como explicar fato tão absurdo. Com efeito, pondera ele, o homem ama naturalmente a felicidade e, dado que esta consiste na alegria nascida da verdade, seria uma aberração alguém tomar como inimigo quem prega a verdade em nome de Deus. Enunciado assim o problema, passemos à explicação. A natureza humana é tão tendente à verdade que, quando o homem ama algo contrário à verdade, deseja que esse algo seja verdadeiro. Com isso engana-se a si mesmo, convencendo-se de que é verdadeiro o que na realidade é falso. É preciso, pois, que alguém lhe abra os olhos. Ora, como o homem muitas vezes não admite que se lhe demonstre que se enganou, tampouco tolera que se lhe demonstre o erro no qual se encontra. E a Águia de Hipona conclui:

"Assim, odeiam a verdade porque amam aquilo que supõem ser a verdade. Amam-na quando ela brilha, e a odeiam quando ela os repreende. [...] Mas a verdade sabe retribuir: como eles não querem ser por ela revelados, ela os denunciará contra a vontade deles, e não mais se revelará a eles. Assim é o espírito humano: cego e preguiçoso, torpe e indecente; deseja permanecer escondido, mas não quer que nada lhe seja ocultado. E sucede-lhe o contrário: ele não se esconde da verdade, mas é esta que se lhe oculta".11

Relativismo

Ao discorrer sobre a verdade, não se pode deixar de tratar também de um fenômeno tão atual como a globalização, e muito ligado a ela, o relativismo. Este último, tão em moda hoje, propugna, em última análise, que: não existe uma verdade, mas sim verdades; não se pode afirmar nada como tendo uma validez eterna e universal; as diversas e variadas circunstâncias históricas, culturais, sociais ou temporais podem modificar os conceitos e as coisas.

De acordo com essa concepção relativista, se justifica uma série de comportamentos e situações que até há pouco eram considerados reprováveis, mas que hoje reputam-se aggiornatti, uma vez que "os tempos mudaram", como se costuma dizer. Embora os tempos mudem, sabemos e cremos que a Palavra de Deus não muda (como também o homem é sempre o mesmo em essência), pois mais facilmente "passarão o céu e a terra do que se perderá uma só letra da Lei" (Lc 16, 17).

A Igreja, coluna e sustentáculo da verdade

Concluindo estas reflexões, não podemos senão admirar e ponderar como é maravilhoso haver Deus dotado a Igreja de uma voz infalível, que transmite a verdade cristalina, evitando- lhe naufragar na tempestade de opiniões e de pareceres pessoais desordenados e desarmônicos, que acontece quando não se segue a verdade. Alguém dirá que isto constitui uma amarra, e outro mais atrevido dirá que o dogma cerceia a liberdade. Nada mais contrário à realidade. Qual o insensato capaz de afirmar que as leis de trânsito escravizam os motoristas e lhes coarctam a "liberdade" de colidir com outros veículos ou de atropelar os pedestres? E quem não vê a utilidade do corrimão na escada para evitar acidentes?

Por isso, dignou-Se Deus ornar Sua Igreja, "coluna e sustentáculo da verdade" (I Tm 3, 15), com a preciosa joia que é a infalibilidade papal, graças à qual sabemos e cremos que o Sumo Pontífice, assistido diretamente pelo Espírito Santo, não se equivoca em matéria de Fé e moral. Isso dá à Igreja um fundamento sólido como uma rocha. Ainda que as tempestades ameacem submergi-la, podemos confiar em sua continuidade, pois não se deixará de cumprir a palavra do Senhor segundo a qual as portas do inferno não prevalecerão contra ela (cf. Mt 16, 18).

Quem nos conduz à verdade é o Espírito Santo

Somente na Verdade e no Amor - em uma palavra, somente em Deus - pode a criatura humana saciar a fome e sede de plenitude que leva em si. Distante de Deus só se encontram trevas, erro e confusão. Precisamos reconhecer que somos seres débeis, limitados e contingentes; nossa inteligência, com o pecado original, ficou obscurecida e nossa vontade, inclinada ao mal. Contudo, Deus, em Sua misericórdia, dispôs a solução e nos concedeu com infinita generosidade todos os meios de que necessitamos para alcançar a felicidade à qual anelamos. Sem embargo, enquanto o coração dos homens não se voltar para seu Criador e Senhor, não encontrará a paz, a tranquilidade, a felicidade; pois, como disse Santo Agostinho: "Fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti".12 Quem nos há de conduzir à Verdade é o Espírito Santo, segundo a promessa de Cristo aos Apóstolos: "Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão" (Jn 16, 13).

E a estrela que nos guia até o Porto da Verdade é a Virgem Imaculada. Ela nos indica como proceder, do mesmo modo como nas bodas de Caná, quando disse aos serventes: "Fazei tudo o que Ele vos disser" (Jo 2,5). Essa singela frase resume todo o itinerário cristão. Fazer o que Jesus nos diz, como Maria, que guardava todas as Suas palavras e as meditava em Seu coração (cf. Lc 2, 19.51). ?

1 Cf. SILVEIRA, Pablo da. Historias de filósofos. Buenos Aires: Ed. Alfaguara, 1997, p. 88.
2 Cf. AQUINO, São Tomás. De Veritate q. 1a. 1; Summa Theologica I, q. 16, a. 1, Resp.
3 Sexta morada, cap. X.
4 AQUINO, São Tomás de. Summa Theologica. I-II, q. 109, a. 1, ad 1.
5 Idem, ibidem.
6 Carta Apostólica Lumen Ecclesiæ, 20/11/1974, n. 10.
7 JOÃO PAULO II. Encíclica Fides et ratio, 14/9/1998, n. 34.
8 Homilia, 9/4/2009.
9 Frase atribuída a Aristóteles por Ammonio em sua obra La vida de Aristóteles.
Apud FRAILE, Guillermo.
Historia de la Filosofia. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1975, p. 417.
10 JOÃO PAULO II, Op. cit., n. 25.
11 SANTO AGOSTINHO. Confissões, livro X, cap. XXIII.
12 Idem I, 1, 1.

(Revista Arautos do Evangelho, Novembro/2009, n. 95, p. 18 à 23)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Caelestia - Erudita

Dia 21/11 - Sab
Horário: às 21h
Gratuito

Teatro Guaíra
Rua Conselheiro Laurinho - s/ n°
Centro
Fone: 3304-7900 / 3304-7999

O espetáculo musical da cantora Fortuna (foto) com o coro dos Monges Beneditinos do Mosteiro de São Bento, em São Paulo faz parte do projeto Obrigado Paraná, da Federação Israelita do Paraná, dentro das comemorações dos 120 anos da Imigração Judaica no Estado.

No show, são interpretadas canções ladinas e gregorianas, que falam de mudanças históricas, da vida errante, das festas, das dores e alegrias dos povos, em um diálogo musical e inter-religioso com os Monges Beneditinos.


Fonte: Terra

domingo, 1 de novembro de 2009

Bento 16 se encontra com chefe da Igreja Anglicana no dia 21 de novembro


O Papa Bento 16 se encontrará com o chefe da Igreja Anglicana, o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, no Vaticano, no dia 21 de novembro, pela primeira vez, desde a abertura da Igreja Católica aos tradicionalistas anglicanos, anunciou nesta sexta-feira a Santa Sé.

O encontro será o primeiro entre os dois líderes religiosos desde o anúncio pela Igreja Católica, no dia 20 de outubro, de sua abertura aos anglicanos decepcionados com a própria igreja. O arcebispo Rowan Williams participará, também, de celebrações organizadas pela Universidade Gregoriana para o 100º aniversário do nascimento do cardeal Johannes Willebrands, pioneiro do ecumenismo católico, morto em 2006.

Em meados de outubro, o Papa Bento 16 havia anunciado uma nova estrutura que torna mais fácil para os anglicanos, inclusive para os sacerdotes casados, voltar para o seio da Igreja Católica, respeitando certas tradições. O novo decreto papal, anunciado pelo cardeal americano William Joseph Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, permitirá a ordenação de sacerdotes católicos entre os antigos membros do clero anglicano, inclusive os casados, mas a ordenação de bispos anglicanos casados será vetada. O clero surgido do decreto terá uma liturgia especial. O cisma anglicano ocorreu em 1534, quando a Igreja da Inglaterra se desligou da Igreja Católica Romana por decisão de Henrique 8º, após a rejeição do Papa Clemente 7º a um pedido de anulação do casamento do rei inglês com Catarina de Aragão.

Em 2003, a Igreja Episcopal - nome da Igreja Anglicana nos Estados Unidos - ordenou bispo um homossexual, iniciando a divisão de uma comunidade religiosa que reúne 77 milhões de fieis em todo o mundo. A divisão se ampliou com a benção do casamento homossexual e com a ordenação de mulheres ao episcopado. A nova medida, que unifica parte dos movimentos ultraconservadores, foi classificada pelos vaticanistas como uma das "mais ousadas" já tomadas pelo papa alemão, conhecido por suas posições conservadoras. O arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, o líder espiritual anglicano, comentou que a decisão vaticana não implica "um ato de proselitismo ou agressão", e admitiu que soube do iminente decreto apostólico há algumas semanas.

Williams enfatizou, além disso, que é um sério erro achar que os recentes acontecimentos seriam uma resposta aos problemas internos da comunidade anglicana. Outros discordam. O vaticanista Vittorio Messori afirma que a Igreja Anglicana "foi incapaz de resistir à ideologia hegemônica de correção política, que vai contra a Bíblia", como afirmou ao jornal italiano "Il Sole 24 Ore". "A Igreja Anglicana está se fragmentando, mas mesmo que meio milhão de pessoas a abandonem, isso não vai afetar a tendência, que é irreversível", ressaltou. No entanto, o anúncio papal foi descrito como "um desenvolvimento potencialmente explosivo nas relações anglicana-católicas desde a Reforma", chegou a afirmar o jornal "The Times" na época. "Bispos desesperados convidaram Roma a estacionar seu tanques no gramado do Arcebispado", afirma a matéria. A decisão de Bento 16 foi anunciada, além disso, poucos dias antes de uma reunião crucial com dirigentes do movimento ultraconservador católico lefebvrista, com os quais o Papa tenta há anos a reconciliação depois do cisma de 1988, apesar de alguns de seus líderes questionarem o Holocausto nazista. "Com esta estrutura jurídica se abre o caminho para a integração de outros grupos, como os lefebvristas e vários movimentos protestantes e ortodoxos", explicou o vaticanista do jornal "La Repubblica", Marco Politi. "Todos os passos que o Vaticano está tomando estão dirigidos para a tradição", enfatizou, por sua parte, Sandro Magister, vaticanista da revista "L'Espresso".


sábado, 31 de outubro de 2009

Monges Cartuxos

A realidade da Ordem da Cartuxa

Os Cartuxos formam uma Ordem milenar, fundada por São Bruno.

Hoje em dia, compõe-se de cerca de 450 monges e monjas que levam uma vida solitária no coração da Igreja, e inclui 24 casas distribuídas em três continentes, vivendo a mesma vocação contemplativa.

Monges solitários e contemplativos

Como todos os monges, os cartuxos consagram sua vida inteira à oração, para trabalhar por sua salvação e pela de toda a Igreja. Esta ordem contemplativa se apóia de maneira particular sobre três elementos:
  • a solidão;

  • certa combinação de vida solitária e de vida comunitária;

  • a liturgia cartusiana.

    Monges separados do mundo

    A solidão implica a separação do mundo. Assegurada pela clausura, esta solidão se concretiza, entre outros modos, em:

    - Uma saída por semana, para o Passeio;

    - Carência de visitas;

    - Sem apostolado exterior;

    - Não há rádio nem televisão.

    "Separados de todos, estamos unidos a todos já que é em nome de todos que nos mantemos na presença do Deus vivo."Estatutos 34.2

    Cristo: o Caminho, a Verdade, e a Vida

    "Ego sum via, et veritas, et vita. Nemo venit ad Patrem, nisi per me."

    "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vem ao Pai senão por mim."

    Jo 14, 6.

    "[...] desde sempre, com o auxílio do Espírito Santo, Cristo, Verbo do Pai, escolheu homens para que vivam em solidão e se unam a Ele por um amor íntimo."Estatutos 1.1

    Para isto é que vivem os cartuxos.

    A vida solitária

    Assim, sacerdotes e irmãos vivem uma vida de oração e de trabalho solitários; os primeiros na cela, e os segundos nas obediências.
    "Nossa ocupação principal e nossa vocação é a de dedicar-nos ao silêncio e à solidão da cela.[...] Nela com freqüência a alma se une ao Verbo de Deus, a esposa ao Esposo, a terra ao céu, o humano ao divino."Estatutos 4.1
    Os Ofícios e o trabalho se sucedem segundo um ritmo imutável, ao passo do ano litúrgico e das estações.

    A vida comunitária

    Os cartuxos não são completamente ermitões. As duas dimensões (ativa e contemplativa) presentes em sua vida solitária também se expressam de maneira comunitária: em especial com a missa conventual, o longo ofício noturno, a recreação e o passeio.
    "A graça do Espírito Santo convoca aos solitários para construir uma comunhão no amor, à imagem da Igreja, que, sendo uma, está estendida por todas partes." Estatutos 21.1

    A vida material

    Conquanto os cartuxos estejam apartados do mundo, não vivem só do espírito. Também eles se vêem na necessidade de responder aos reclamos da humana natureza, ainda que com austeridade.
    Os Irmãos se encarregam de uma grande parte destas tarefas. Aos sacerdotes também está reservada uma parte destas tarefas, tanto para ajudar a cobrir as necessidades materiais como para fomentar um bom equilíbrio corporal.
    As rendas da Ordem estão em boa parte asseguradas pela comercialização do licor, mas também pelos produtos de artesanato provenientes de algumas das casas.

    Maria, mãe e modelo dos Cartuxos

    Sub tumm praesidium confugimus, Sancta Dei Genitrix,

    Nostras deprecationes ne despicias in necessitatibus,

    Sed a periculis cunctis libera nos semper,

    Virgo gloriosa et benedicta.


    Sob teu amparo nos acolhemos Santa Mãe de Deus,

    não desprezes nossas súplicas nas necessidades,

    antes bem livra-nos sempre de todos os perigos,

    Oh Virgem gloriosa e bendita!

Ordem dos Templários

A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (em latim"Pauperes commilitones Christi Templique Solomonici"), mais conhecida como Ordem dos Templários ou Ordem do Templo (em francês "Ordre du Temple" ou "Les Templiers"), foi uma das mais famosas Ordens Militares de Cavalaria. A organização existiu por cerca de dois séculos na Idade Média, fundada no rescaldo da Primeira Cruzada de 1096, com o propósito original de assegurar a segurança dos muitos cristãos que voltaram a fazer aperegrinação a Jerusalém após a sua conquista.

Oficialmente aprovada pela Igreja Católica em torno de 1129, a Ordem tornou-se uma das favoritas da caridade em toda a cristandade, e cresceu rapidamente quer em membros quer em poder. Os cavaleiros templários, em seus característicos mantos brancos com a cruzvermelha, estavam entre as mais qualificadas unidades de combate nas Cruzadas. Os membros não-combatentes da Ordem geriam uma vasta infra-estrutura econômica em todaCristandade, inovando em técnicas financeiras que constituíam o embrião de um sistema bancário, e erguendo muitas fortificações por toda a Europa e a Terra Santa.

O sucesso dos Templários esteve estreitamente vinculado ao das Cruzadas. Quando a Terra Santa foi perdida, o apoio à Ordem reduziu-se. Rumores acerca da cerimónia de iniciação secreta dos Templários criaram desconfianças, e o rei Filipe IV de França, influenciado porGuilherme de Nogaret, profundamente endividado com a Ordem, começou a pressionar oPapa Clemente V a tomar medidas contra eles. Em 1307, muitos dos membros da Ordem em França foram detidos, torturados até darem falsas confissões, e então, serem queimados em estacas. Em 1312, o Papa Clemente, sob contínua pressão do rei Filipe, dissolveu a Ordem. O súbito desaparecimento da maior parte da infra-estrutura europeia da Ordem deu origem a especulações e lendas, que têm mantido o nome dos Templários vivo até aos nossos dias.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Símbolo da Fé Católica


782. Este sacrossanto Concílio Ecumênico e Geral de Trento, legitimamente reunido no Espírito Santo, presidindo-o os três legados da Sé Apostólica, tendo em vista a importâncias das coisas a serem tratadas, principalmente daquelas que estão contidas nestes dois pontos: a de extirpar as heresias e a de reformar os costumes, motivo principal de estar reunido, julgou seu dever professar, com as mesmas palavras segundo as quais é lido em todas as igrejas, o Símbolo de Fé usado pela Santa Igreja Romana como princípio em que devem concordar todos os que professam a fé cristã e como fundamento firme e único contra o qual jamais prevalecerão as portas do inferno (Mt 16, 18). O qual é o seguinte: Creio em um só Deus, Pai Onipotente, Criador do céu e da terra e de todas as coisas, visíveis e invisíveis. E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos; é Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; é gerado, não feito; consubstancial ao Pai, por quem foram feitas todas as coisas. O qual, por amor de nós homens e pela nossa salvação, desceu dos céus. E se encarnou por obra do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Foi também crucificado por nossa causa; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos e foi sepultado. E ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E subiu ao céus, está sentado à mão direita de Deus Pai. E pela segunda vez há de vir com majestade a julgar os vivos e os mortos. E seu reino não terá fim. E [creio] no Espírito Santo, [que também é] Senhor Vivificador, o qual procede do Pai e do Filho. O qual, com o Pai e o Filho é juntamente adorado e glorificado, e foi quem falou pelos profetas. E [creio] na Igreja, que é una, santa, católica. Confesso um só Batismo para remissão dos pecados. E aguardo a ressurreição dos mortos e a vida da eternidade. Assim seja.